Do <i>self</i> ao limbo

Publicada em 24/11/2015

O Museu Regional de São João del-Rei receberá, no período de 25 de novembro a 31 de janeiro, exposição de uma obra “póstuma”. O “falecido” artista - ou o artista “falecido”, no rastro do insondável dilema de Brás Cubas -, Gedley Belchior Braga, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ, está no inferno, ou melhor, no limbo. Limbo, aliás, é o nome de sua exposição, parceria entre Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEX) e Museu Regional.

Mas… morto? “É a continuidade de um projeto, que remonta a 2005, quando expus na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo. Love&Hate trazia uma instalação na qual se inseria o episódio de minha morte representacional. Portanto, eu morri naquela exposição”, conclui Gedley, dispensando auxílio de mesa branca. Além de Love&Hate, o falecido artista produziu, em 2008, Obra Póstuma, instalações resultantes de sua tese de doutorado na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.

Limbo se fragmenta em: Aquarelas Semióticas; Desenhos; P: A.S.S [Project: Authentic Semiotic Self]; e Lonely is an eyesore. Aquarelas Semióticas referenciam obras de arte renomadas (o artista falecido leciona História da Arte), evidenciando nas telas um lado de sua face e/ou das personagens na cena. Por isso semiótico, explica, baseado em um olhar apenas.

P: A.S.S (sim, a sigla em inglês dá a entender literalmente o que você leu) é, acima de tudo, uma representação quase literal das aquarelas semióticas: “Já que vinha fazendo selfies semióticos, brinquei com a ideia da imagem onipresente, que invadiu muitos museus, e comecei a trabalhar com o autêntico self”, conta Gedley. Durante sua estadia na Itália, numa busca frustrada de Renascimento, o artista fez estas selfies ao lado de obras famosas, selecionando 81 para o Limbo.

O uso de selfies e a representação destes em aquarelas abre um campo de debates para o professor. Os autorretratos estão presentes na obra de pintores de todas as escolas, das mais clássicas às mais contemporâneas, executados nas mais variadas formas. Com a ajuda de espelhos, a reflexão guia a criação do artista, como podemos ver nos óculos do professor nas fotos dos museus italianos. “É por isso que o nome do meu projeto faz essa brincadeira entre a selfie e o self”, informa.

Para conferir o Limbo de Gedley Braga e, quem sabe, até mesmo se encontrar com seu fantasma, recomenda-se estar na abertura da exposição, nesta quarta, 25 de novembro, às 19h30, no Museu Regional. Para cada trabalho exposto, há um flickr: aproveitem e curtam a página “ectoplasmática” do artista.