Fernando Diniz e a complexidade dos processos psíquicos

Publicada em 09/09/2016

De família pobre, sem ter conhecido o pai, Fernando cresceu sob os cuidados da mãe, que trabalhava como costureira em casas de famílias abastadas do Rio de Janeiro. O baiano sonhava em namorar a filha de uma das patroas. A vida amarga, porém, o fez pintor; os obstáculos o fizeram grande, como nos fizeram grandes a grande poesia de Bandeira, nosso "poeta menor". Um pouco dessa grandeza entra em cartaz nesta segunda, 12, às 20h, no Centro Cultural UFSJ. Série do Cinema integra a programação do IX Seminário Saúde e Educação: minha universidade e formação de profissionais de novo tipo, organizado pelo Núcleo de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde da UFSJ (coordenado pelo professor Walter Melo Júnior, do Departamento das Psicologias) e do Festival Artes Vertentes.  

“Não sou eu, são as tintas”

Fernando Diniz nasceu em Aratu, Bahia, e se mudou para um morro no Rio de Janeiro aos 4 anos de idade.

Pela pobreza em que vivia, pode estudar com sacrifício até o Ensino Médio, sonhando se formar engenheiro para se casar com a filha de uma das patroas de sua mãe, um amor de infância. A notícia do casamento da jovem com outro homem desencadeou em Fernando um processo de autodesestruturação: por nadar nu na praia de Copacabana, foi preso e encaminhado ao Manicômio Judiciário, de onde foi levado ao Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro, com o diagnóstico de esquizofrenia. Ali, encarou métodos ineficazes e violentos de tratamentos à base de eletrochoque, até que passou a frequentar os ateliês de pintura e modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional, dirigida pela psiquiatra Nise da Silveira.

Sua extensa obra se ampara num forte teor expressivo, capaz de iluminar a compreensão dos processos psíquicos pesquisados pela doutora Nise, por meio da minuciosa interpretação de suas séries pictóricas. Em 1982, conheceu o cineasta Leon Hirzman, tornando-se protagonista do documentário Em busca do espaço cotidiano, filme que integra a trilogia Imagens do Inconsciente. Fernando Diniz participou com entusiasmo das filmagens e da montagem do filme, revivendo seu interesse pelo que chamava de “movimento da imagem”. Série do Cinema é desse período. A produção de Fernando Diniz é tombada pelo IPHAN e faz parte do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente. Mais sobre a carreira do artista aqui.

IX Seminário

O IX Seminário Saúde e Educação: minha universidade e formação de profissionais de novo tipo comemora o 10º ano de atuação do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde (NEPIS) da UFSJ. Com mais de 150 alunos, que passaram por estágios, grupos de estudo, programa de extensão e pesquisa (em nível de iniciação científica e de mestrado), o Núcleo objetiva, com o evento, discutir a formação de pessoas com conhecimento técnico vinculado ao conhecimento ético. Nesta edição, entra em debate a visão republicana: o acréscimo do possessivo no subtítulo pode denotar posse e desrespeito, e também implicação e respeito, pela coisa pública.

O IX Seminário tem lugar no Auditório da Biblioteca do Campus Dom Bosco, até 16 de setembro. Nesta segunda, 12, às 16h, está agendada exibição do filme Nise, o coração da loucura, seguido de debate com o diretor Roberto Berliner. Na sequência, abertura da exposição Fernando Diniz e o Cinema, às 20h, no Solar da Baronesa, onde será lançado A liberdade ainda que tardia, organizado pela equipe do Grupo Caminhos Junguianos.

A exposição, que traz as pinturas da Série do Cinema, pode ser vista até 11 de outubro.

Confira a programação do Seminário