O Jardim Secreto: impressões da peça Soft Porn

Publicada em 06/09/2017 - Fonte: ASCOM

Quando somos crianças, nos são contadas histórias boas e ruins em que mocinhos e vilões se fazem presentes. Antes de dormir, somos lembrados que há um mundo mágico lá fora e que podemos embarcar nele por meio dos sonhos. São pelas imagens e gravuras que nossa imaginação é alimentada, como um monstro faminto por fantasias que aos poucos vai se alimentando e crescendo, tornando-se um grande amigo que dorme embaixo de nossa cama todos os dias.

Diariamente nos são apresentados princesas e príncipes, lobos maus e bruxas, lugares encantados e bosques. Amor, paixão, perigos e armadilhas. Somos rodeados por tais palavras que compõem nossa vida em nossa doce criancice.

Mas, então, começamos a crescer e aquele lugar que nos era tão seguro e familiar começa a se afastar de nós. Os castelos já não mais parecem tão altos, os bosques não tão mais perigosos. O mundo encantado já não nos parece mais encantado. Para onde foram todos?

Tudo parece perdido. Morto. Sem ninguém. Então percebemos que o mundo não está errado, mas nós sim. Estamos crescendo, a fantasia aos poucos é trocada pela realidade. O mundo real cada vez mais se toma o espaço de nosso coração jovem. Os deveres nos obrigam a seguir em frente, mesmo não sendo aquilo que havíamos imaginado.

Nosso coração parece um grande espaço árido e seco. Nada é plantado nele, nenhum animal vive, não há nenhuma vida. O mundo fica sombrio e aquele lugar tão lindo e vívido já não mais existe. As sombras começam a se fazer presentes, o bosque antes verde agora não mais existe, tornou-se uma fina camada de poeira sombria e negra.

Olhos vermelhos. Mantas escuras. Plantas secas. Princesas perdidas. Príncipes ocultos. E então estamos em um novo mundo, onde nossas doces e inocentes fantasias são trocadas pelos sentimentos ocultos e violentos. Não há dia, somente noite. Não há alegria, amor nem carinho. Só há a mais pura escuridão, com seus grandes monstros e princesas esquecidas. Só há o resto!

Tudo entra em conflito. Os monstros começam a perseguir as princesas, que desesperadas fogem à procura de alguma salvação. O solo não é firme, ao contrário, se abre e engole qualquer esperança. Tudo parece errado, sem sentido. A noite se faz fria e sombria. Não há animais, somente o mais puro instinto de sobrevivência. Não há mais humanos, pois estes se tornaram monstros. Não há mais nada!

O mundo começa a girar. As cenas a se repetir. Escuridão, violência, sangue, princesas fugindo, monstros perseguindo, animais inexistentes, solos resistentes, bosque sombrio, morte, solidão.

Tudo para. Não há mais nada!

E então o jovem coração começa a renascer. Do solo sombrio sem vida, as primeiras plantas nascem. Animais começam a surgir e os lagos a se encher. A noite se vai e em seu lugar um céu é preenchido. O vento bate, a música toca. As princesas voltam à sua inocência e beleza. Os monstros dão lugar a príncipes e sonhos. Tudo volta ao normal.

O mundo está de volta!

Soft Porn

O espetáculo Soft Porn, do grupo Transeuntes, dirigido por Marcelo Rocco, revisita clássicos da literatura infantil, trazendo o medo e o terror como mote da montagem. Isso tudo num cenário não muito usual na prática do teatro: o bosque do Campus Dom Bosco. As apresentações mais recentes aconteceram às 23h45 dos dias 31 de agosto e 1º de setembro.

Texto de Camille Gallo Miranda, do projeto Comunica Extensão. Todas as sextas-feiras, o site de notícias da UFSJ traz o Comunica Extensão, com novidades sobre as ações extensionistas da nossa Universidade. Em virtude do recesso da próxima sexta, 9, antecipamos a publicação da semana. Acompanhe!