Contra o hegemônico e o conservador: MUDA!

Publicada em 27/08/2018

Festival terminou na última quarta-feira e deixa crítica a uma perspectiva hegemônica do audiovisual

Permitir um olhar fora dos padrões estabelecidos tanto pela forma de se produzir audiovisual quanto pelas temáticas abordadas em sua grande maioria foi o objetivo principal da II Mostra Universitária de Audiovisual da UFSJ (MUDA!). Após a palestra da diretora e roteirista de ficção e documentário Clarissa Moebus Ramalho na quarta-feira, 22, o festival terminou com o anúncio dos três filmes escolhidos pelo júri para a premiação.

Durante os três dias de evento, a exibição de um catálogo com cerca de 50 filmes enviados por 23 universidades brasileiras brindou estudantes da UFSJ no Auditório do Campus Dom Bosco, que refletiram sobre novas formas de ser e de produzir audiovisual, num esforço de “cobrir a lacuna de informações que não são veiculadas nos meios de comunicação hegemônicos”, como explicou um dos professores coordenadores do evento João Barreto. Foram abordados assuntos como feminismo, questões LGBTQI e terceira idade num enfoque de resistência e inspiração.

No último dia de exibições, palestra de Clarissa Moebus Ramalho provocou a reflexão acerca das possibilidades artísticas que envolvem a produção audiovisual. Natural de São João del-Rei, a diretora e roteirista iniciou a conversa com o questionamento: “o que é mais importante: o som ou a imagem?”. A resposta que reafirmava a importância da experimentação para fuga do óbvio se concretizou depois da exibição do curta “O Cego Estrangeiro” de Marcius Barbieri.

Também foram apresentados os curtas produzidos pela cineasta para o Dia da Mulher e que foram exibidos na Empresa Pública de Comunicação. Os dois minidocumentários trouxeram personagens de classes diferentes, como forma de abranger a multiplicidade de vivências existente entre as mulheres e o fato de que ambas têm o direito de perceber-se no mundo.

Para Clarissa, a produção audiovisual contribui para a transformação da sociedade à medida que expõe as atitudes do outro que estão fora do nosso alcance: “Quando a gente trabalha com arte, essa é a forma que encontramos para responder aquilo que nem sempre é possível você colocar da maneira mais objetiva possível. É uma forma de responder aquilo que te é provocado”, expõe.

O júri utilizou critérios como fotografia, coesão e elementos que surpreendessem para escolher os vencedores. Para além da premiação, Clarissa chama a atenção para a troca de experiências oferecida pela MUDA!: “É preciso ter uma base sólida, mas é bom também que haja um espaço de experiência, de troca, para que você consiga acrescentar no seu trabalho e que você acrescente no trabalho de outras pessoas”. Já o jurado Marlon destaca a oportunidade de experimentação oferecida pelo festival: “O que roda a roda é a ideia”, provoca o fotógrafo.