Outubro Rosa - A importância da prevenção para o diagnóstico precoce do câncer de mama

Publicada em 31/10/2018

O cuidado e a prevenção podem até não garantir que uma mulher escape de ter um câncer de mama. Porém, uma certeza: a detecção precoce da doença é fundamental para o êxito no tratamento. Foi o que ocorreu com a coordenadora do curso de Matemática da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Romélia Mara Alves Souto.

No último dia do Outubro Rosa, publicamos entrevista com a professora, que nos conta: manter um acompanhamento frequente em razão de nódulos já existentes na mama permitiu uma abordagem terapêutica que levou à cura do câncer. Além disso, o apoio de família e amigos e o preparo físico e psicológico para o tratamento foram cruciais para superar as dificuldades da quimioterapia. Para Romélia, todo esse processo mudou a forma de encarar a vida. E defende: as mulheres devem pôr de lado medos e preconceitos e buscar a prevenção.

Como percebeu que tinha o câncer? Foi por meio de exame preventivo ou autoexame?
Foi por meio de exame, mesmo. Eu tinha nódulos no seio há vários anos e fazia acompanhamento de seis em seis meses, com ultrassom e mamografia. Enquanto isso estava estável, sem dar sinais, foi ficando. No primeiro exame que fiz, quando perceberam um pequeno crescimento em um dos nódulos, foi pedida a biópsia, que acusou câncer. Isso foi em 2013. Tinha descoberto os nódulos no seio em 2009. Os exames periódicos visavam monitorar e ver quando apresentasse alguma modificação de textura ou tamanho nos nódulos. Aí seria hora de investigar mais. Foi o que aconteceu.

O câncer foi identificado logo no início?
Poderia ter sido um pouco antes, porque, quando descobriu, já estava vindo para a axila, que é o primeiro avanço da doença.

Há histórico de câncer na família?
Tinha uma tia já com idade muito avançada que teve câncer de mama, mas não era nem considerado (como histórico), porque à medida que as pessoas vão envelhecendo, todo mundo tem chance de ter um câncer. Eu fui a primeira em um grupo mais restrito da família. Depois de mim, teve uma tia mais velha, e minha mãe teve um câncer localizado, na mama. O oncologista com quem me trato até hoje explica que o maior fator de causa do aparecimento do câncer é genético.

Como foi receber essa notícia e como se preparou para o tratamento?
Foi um susto grande, porque estava muito otimista. Como fazia o acompanhamento, achei que não ia ter problema. Fiz a biópsia e aguardei sem preocupação. Levei um susto muito grande quando veio o resultado positivo. Fui logo encaminhada para Belo Horizonte para cirurgia. O diagnóstico foi em agosto e a cirurgia, em setembro. Nesse tempo, tratei de me preparar física, emocional e espiritualmente. É um enfrentamento muito difícil!Sabia que não era uma coisa fácil, mas é muito mais difícil que a gente imagina. Comecei a me preparar com acompanhamento psicológico. Sou uma pessoa que crê em Deus e busca apoio em uma religião.

A cirurgia fez a remoção total da mama?
Foi total, porque tinha muitos nódulos, então não valia a pena tirar um e deixar os outros, já que um deles tinha acusado. Foi feita uma mastectomia radical e colocada uma prótese. Depois da cirurgia, te dão um tempo de 45 dias, já que o pós-operatório é complicado. Foi uma cirurgia longa, fiquei mais de 20 dias com dreno. E comecei a quimioterapia. Foram oito sessões, com intervalo de 21 dias. É uma luta, essa é uma fase braba. Porque os efeitos são devastadores. Meu médico falava, e hoje eu entendo com muita clareza: “olha, para matar o câncer, a gente quase mata o paciente.” Então tem dia que você acha que vai morrer mesmo, se não tiver ajuda, pessoas por perto. É muito importante o apoio da família!

Como lidar com efeitos da quimioterapia, a exemplo da queda de cabelo?
Aprendi na marra, não lidei assim fácil, não! Sempre tive cabelo grande, é tradição na minha família, a mulherada toda tem esse cabelo anelado mais longo. Gostava daquele cabelo grande, e o médico falou na primeira sessão (de quimioterapia): “é melhor você cortar esse cabelo, porque vai cair”. E eu: “ah, vai mesmo?” Eu não acreditava, porque tem gente que não cai. E ele: “vai cair, com 15 dias depois da primeira quimio você vai ficar sem cabelo”. Foi dito e feito! Quando fez 15 dias, eu levantei de manhã, quando fui à frente do espelho lavar o rosto e mexi no cabelo, começaram a sair os tufos. Foi muito difícil, porque a mudança física durante o tratamento é muito rápida, você não tem tempo de assimilar. Numa semana você tem cabelo, na outra nao tem. Numa semana sua pele está boa, na outra está detonada. Você fica com aspecto de pessoa doente, com olheiras. Quando você se olha no espelho, a aparência está degradada. Eu repetia pra mim todos os dias: “isso é resultado da quimio, isso não é a doença”. Senão você começa a pensar que a doença está te levando.

E o acompanhamento psicológico, qual o papel nesse período?
Foi muito importante! É um embate psíquico muito intenso, então você tem que ter algum acompanhamento. A quimioterapia te agride fisicamente, mas também te agride psicologicamente. Você fica sem imunidade, deprimida.

Qual o balanço desse período?
Foi uma fase muito difícil, mas passa. Já se passaram cinco anos, é um grande aprendizado. A gente amadurece muito e aprende a valorizar outras coisas, ressignifica muitas coisas. Você não volta a ser a mesma pessoa, não volta aos mesmo lugares, mesmo ambientes, mesmos amigos. A roda de amigos às vezes muda, porque nessa hora, alguns vão embora, outros ficam. É uma fase de reclusão, você não aguenta (sair). E a família toda se une, amadurece. Aqueles laços verdadeiros saem fortalecidos. A gente aprende a viver mais especificamente o dia de hoje. O passado fica no passado, é pra lá que ele tem que ficar. E o futuro a gente nunca sabe, não tem nenhum controle sobre ele. É bobagem se preocupar! Foi uma mudança importante vivenciar o dia de hoje com mais intensidade e cuidado, dar importância a coisas que são fundamentais para a vida. Aparência, festa, vaidade, roupa, casa, carro, essas coisas passam a valer absolutamente nada.

Que orientação você daria para mulheres que não fazem acompanhamento de prevenção ao câncer de mama?
Eu acho que a gente tem que fazer a nossa parte. Não significa que, fazendo o acompanhamento, está livre (da doença). Mas aconteceu comigo. Quando foi descoberto e tive que passar por todo esse processo, me deu muita tranquilidade saber não foi displicência nem negligência minha. Sempre fui uma pessoa ligada a atividades físicas, tinha alimentação saudável. Cultivava hábitos de vida que não justificavam atrair uma doença dessa. Certamente ela veio de forma mais branda e suportei o tratamento por conta mesmo desses hábitos. Conheço pessoas que dizem que não fazem a mamografia porque têm medo de aparecer alguma coisa. Se não fizer o que te compete, que é a prevenção, vai ser pior. O conselho que dou é que não fuja da prevenção, porque realmente ajuda.

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