Confira entrevistas e dados veiculados pela UFSJ durante o Outubro Rosa

Publicada em 01/11/2018

Em outubro, o site de notícias da UFSJ publicou uma série de matérias especiais sobre câncer de mama, em referência à campanha Outubro Rosa. Confira, abaixo, a entrevista completa com a professora de Medicina do Campus Centro-Oeste Dona Lindu (CCO/UFSJ), Lecticia de Siqueira Ribeiro Rios, que embasou uma das matérias veiculadas; dados relevantes para entender a importância da prevenção; e links para matérias anteriores.

Entrevista com Lecticia de Siqueira Ribeiro Rios

Qual a importância da realização da Campanha Outubro Rosa?
Com movimentos como esse, a gente consegue conscientizar o maior número de pessoas para fazer os exames e, assim, ter diagnósticos mais precoces e mudar a realidade da mortalidade do câncer de mama, que é ainda tão alta (ver dados no box abaixo)

Como prevenir a doença?
O exame físico anual (com o médico) deve ser feito por todas as mulheres a partir dos 35 anos. Em relação à mamografia, a gente tem a recomendação de realizar a de base entre 35 e 40 anos e, se não tiver nada, fazer o exame anual de mamografia a partir dos 40 anos. Isso levando em consideração a população de baixo risco - como aquela mulher que não tem histórico familiar de câncer de mama ou de ovário. O rastreamento com mamografia é uma forma de prevenção secundária - que é fazer um diagnóstico precoce para mudar a mortalidade da doença. Já a prevenção primária é uma outra forma (de detecção), mas infelizmente a gente ainda não dispõe para a população de baixo risco. A gente faz a prevenção primária para câncer de mama quando tem uma histórico familiar. É feito um teste genético e, se a mulher tiver uma mutação genética, faz a cirurgia preventiva, com a retirada das mamas e dos ovários, conforme a indicação dos testes. Mas isso é a exceção. O mais comum, e que a gente deve orientar, é o exame clínico e a realização da mamografia.

Quais os sinais de alerta?
Principalmente se a mulher notou algum nódulo na mama, mais fixo, mais endurecido, deve procurar realizar o exame com o profissional e fazer a mamografia. Mas também se tiver alguma ferida no mamilo; saída de secreção, principalmente quando é espontânea (com sangue ou transparente); alterações na pele, que fica parecendo uma casca de laranja; ou se perceber alguma inversão no mamilo que não notava anteriormente.

E a recomendação do SUS de mamografia anual a partir dos 50 anos? Deveria haver uma redução dessa idade?
Essa divergência é muito comum na saúde pública. A realização da mamografia antes dos 50 anos implicaria uma queda em torno de 6% a 7% na mortalidade (por câncer de mama). A última recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia e de Radiologia é a mamografia a partir dos 40, anualmente. Já no Ministério da Saúde a recomendação é fazer bianualmente, a partir dos 50 anos.

Apenas 18% da mulheres no público-alvo fizeram a mamografia neste ano em Minas Gerais. O que leva a essa situação?
O fluxo dentro do sistema de saúde é muito ruim. Não adianta a gente ir lá fazer uma mamografia em carro ou caminhão (unidade móvel), mas depois a mulher não tem a quem levar, ou não passar por um exame físico antes (da mamografia). A gente não está fazendo o programa de forma a atender a real necessidade da população. O carro (com a mamografia) está lá, mas ela tem dificuldade de marcar, porque não tem uma consulta prévia com mastologistas ou mesmo com a enfermeira do posto de saúde. E o resultado sai dois, três meses depois. Então elas fazem (o exame) numa campanha e, na outra, não querem fazer mais. E tem questões relacionadas à falta de orientação, mesmo. As mulheres têm medo do exame, acham que dói. Então por isso precisamos tanto dessa conscientização das pessoas.

O que poderia explicar o crescimento na mortalidade por câncer de mama e como reverter esse quadro?
Parece que essa alta ainda está relacionada ao diagnóstico tardio. Nosso tratamento melhorou muito, e com diagnóstico precoce a gente consegue mudar essa história. Enquanto no consultório (privado) a gente detecta o câncer em estágio I e II, no SUS o nosso diagnóstico é de III e IV - neste, muitas vezes já é metástase de câncer. Na metástase a gente vai prolongar (a sobrevida), mas não vai mudar a mortalidade - a não ser que tenhamos uma descoberta revolucionária. Como mudar essa realidade? Diagnóstico precoce, sem dúvida alguma, e melhorando o tempo entre a paciente perceber a alteração na mama e conseguir o acesso ao serviço de saúde para tratamento.


Dados diversos

12% das mortes por câncer de mama no Brasil são atribuíveis ao sedentarismo

Cerca de 12% das mulheres vítimas do câncer de mama poderiam ter a vida poupada se praticassem atividade física regularmente (150 minutos por semana). É o que aponta o artigo científico “Mortality and years of life lost due to breast cancer attributable to physical inactivity in the Brazilian female population (1990–2015) - Mortalidade e anos de vida perdidos devido ao câncer de mama atribuível a inatividade física na população feminina brasileira”, divulgado na revista Nature, que contou com a participação do Ministério da Saúde. De acordo com a pesquisa, no ano de 2015, mais de duas mil mortes poderiam ter sido evitadas se as pacientes realizassem ao menos uma caminhada de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana.

O artigo explica que um dos fatores que causam o câncer de mama é o excesso de estrogênio, que pode levar à formação de mutações e carcinogênese estimulando a produção de radicais. A atividade física diminui o estradiol e aumenta a globulina de ligação a hormonas sexuais, provocando uma redução de circulantes inflamatórios e aumentando as substâncias anti-inflamatórias.

A pesquisa também chama atenção para o impacto de outros fatores de risco em mortes: 6,5% dos óbitos por câncer de mama são atribuídos ao uso de álcool, índice alto de massa corporal e uma dieta rica em açúcar.

* Com informações da Agência Saúde


Lei garante início do tratamento contra o câncer até 60 dias após diagnóstico

Para o tratamento de câncer de mama, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece todos os tipos de cirurgia - como mastectomias, cirurgias conservadoras e reconstrução mamária -, além de tratamentos paliativos e os tradicionais, conforme cada caso, como a radioterapia, a quimioterapia e a hormonioterapia.

A Lei nº 12.732/2012 (www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12732.htm) estabelece que o paciente com neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro tratamento no SUS, no prazo de até 60 dias a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso.
O tratamento do câncer é feito por meio de uma ou várias modalidades combinadas - envolvendo cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. O médico vai escolher o tratamento mais adequado de acordo com a localização, o tipo do câncer e a extensão da doença. Todas as modalidades de tratamento são oferecidas pelo SUS.

Fonte: Ministério da Saúde.


Quem deve fazer mamografia

Mulheres de 40 a 49 anos – realização do exame clínico das mamas para todas as mulheres dessa faixa etária e realização de mamografia, se existir indicação da equipe de saúde.

Mulheres de 50 a 69 anos – realização do exame clínico das mamas e realização de mamografia de 2 em 2 anos, ou em intervalos menores, dependendo do resultado da mamografia anterior. Se você perceber alguma alteração na mama procure a equipe de saúde mais próxima da sua casa. Conhecer o seu corpo e se cuidar é muito importante!

Mulheres com elevado risco para câncer de mama (histórico familiar e/ou histórico pessoal de câncer de mama) – necessário avaliação e acompanhamento individualizado.


Sinais de alerta

Caroço (nódulo) fixo, endurecido e, geralmente, indolor;
Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja;
Alterações no bico do peito (mamilo);
Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço;
Saída espontânea de líquido dos mamilos.

Fonte: Inca.


Onde buscar atendimento

As mulheres de 50 a 69 anos devem se dirigir ao Programa de Saúde da Família (PSF) da sua área de residência, Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima ou marcar consulta ginecológica no Núcleo Materno Infantil para que seja feita a solicitação de mamografia de rastreamento. Além disto, em qualquer faixa etária, a mulher deve procurar essas Unidades de saúde caso identifique os seguintes sinais e sintomas.


Dados sobre mortalidade por câncer de mama

A mortalidade estadual por neoplasia da mama feminina cresceu em torno de 52% em Minas Gerais entre os anos de 2006 (taxa bruta de 10,6/100 mil) e 2017 (taxa bruta de 16,1/100 mil). No ano 2017, os 1.430 óbitos de mulheres por neoplasia da mama representaram 15,5% do total de óbitos por todas os tipos de câncer ocorridos no sexo feminino.

Mortes por câncer de mama no Brasil em 2016: 16.254 (16.069 mulheres e 185 homens).
Mortes por câncer de mama na Região Sudeste em 2016: 8.176 (82 homens e 8.094 mulheres).
Mortes por câncer de mama no Estado de Minas Gerais em 2016: 1.562 (25 homens e 1.537 mulheres).

Fonte: SES-MG e Inca.

 

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