Artista faz performance de 59 horas no Cenro Cultural e denuncia assassinatos de jovens negros

Publicada em 18/01/2019

Está em cartaz no Centro Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei, até 27 de fevereiro, a performance-instalação Mil litros de preto - a maré está cheia, da artista Lucimélia Romão.

Impulsionada pelas notícias diárias de mortes de jovens negros, a proposta da artista é apresentar uma performance que se constitui posteriormente, por 40 dias, como instalação permanente. “Uma performance que ecoa dias, uma instalação que perpetua”, comenta Lucimélia, que após ler O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado, de Abdias Nascimento, e perceber o quanto ainda é atual, decidiu realizar o projeto para instigar as pessoas a refletirem sobre preconceito e exclusão.


O projeto foi selecionado pelo Edital de Artes Visuais do Centro Cultural da UFSJ e consiste na denúncia do genocídio da juventude preta. A cada 25 minutos, soa um alarme e a performer despeja um balde com sete litros de líquido vermelho (quantidade exata de litros de sangue que há em um corpo adulto) numa piscina. Lucimélia permanecerá por três dias no local, descansando apenas nos intervalos, acompanhada de um saco de dormir. Em aproximadamente 59 horas, a piscina estará cheia com 994 litros de sangue vermelho negro.


A ação teve início início ontem, às 9h, e termina amanhã, às 20h. A entrada é franca.

 

A artista
Lucimélia Romão, acordeonista, artista de rua e performer. Natural de Jacareí, interior de São Paulo. Atriz, formada no curso técnico em Teatro pelo Escola Municipal de Artes Maestro Fêgo Camargo, de Taubaté (SP). Graduanda em Teatro pela UFSJ. Desenvolve trabalhos voltados para a performance e teatro negro. É co-criadora dos grupos de performance Coletivo Pé3, do grupo de teatro Cia. Lianô e do Coletivo As Carolinas. Atualmente, circula com a performance Marcos, as cenas MÃOS AO ALTO! e Olha o pesado aí.


A proposta

A maré está cheia. Cheia de balas. Cheia de corpos. Cheia de corpos negros atravessados pelas balas! Transborda dor, transborda morte. Transbordam lágrimas dos olhos das mães periféricas, aquelas mães que sabem que colocaram seus filhos no mundo para serem alvejados pelo Estado e pela polícia racista brasileira. É nesse cenário estratégico de abandono que o Estado mantém a população negra, em condições subhumanas.
 

Um corpo. Mudo. Estarrecido. Crivado de dor e sangue. Sete litros. Sete litros de sangue que escoam de cada corpo, enquanto a vida se esvai, a cada 25 minutos enchendo uma piscina de mil litros em cerca de 59 horas.

 

O genocídio da juventude preta é a política-base do Estado para com os negros brasileiros desde a escravidão. O extermínio é iminente. Tática de guerra travada contra um povo que nunca teve direito e condições de lutar de igual para igual. Matam-se crianças, adolescentes e jovens. Diminui-se a expectativa de vida. Estupram-se mulheres, crivam de balas seus filhos.



Serviço
Performance-instalação Mil Litros de Preto

De 17 de janeiro a 27 de fevereiro

Performance: início dia 17/01, às 9h, e término dia 19/01, às 20h

Instalação: de 17/01 a 27/02 (diariamente, das 8h às 20h)
Local: Centro Cultural da UFSJ -  Praça Dr. Augusto das Chagas Viegas, 17

São João del-Rei, MG