Programa Acolher: promoção de saúde de crianças e adolescentes é reconhecida nacionalmente

Publicada em 28/06/2019

As professoras Elaine Cristina Dias Franco e Edilene Silveira, do Campus Centro-Oeste (CCO) Dona Lindu, coordenadoras do Programa Acolher na UFSJ, participaram, no período de 23 a 25 de maio, do 15º Congresso Brasileiro de Adolescência, em São Paulo. No evento, foram apresentados quatro estudos desenvolvidos pelo Programa, os quais receberam menção honrosa por Melhor Trabalho do Estado de Minas Gerais e o prêmio de Melhor Pôster Comentado por “O cuidado a adolescentes institucionalizados(as): percursos experimentados por mães sociais”.

O Programa Acolher é uma iniciativa do curso de Enfermagem e trabalha com a promoção da saúde de crianças e adolescentes que vivem em abrigos no município de Divinópolis, cidade do centro-oeste mineiro. O objetivo é favorecer o desenvolvimento biopsicossocial dos meninos e meninas que estão em situação de acolhimento. O Acolher teve início em 2016 como projeto de extensão e, posteriormente, tornou-se programa.

A ideia nasceu a partir de uma atividade prática de ensino desenvolvida dentro dos abrigos por um grupo de alunas do primeiro período do curso. Foi nesse trabalho de campo que, ao identificar as diferentes demandas de assistência biopsicossocial que as crianças e adolescentes apresentavam, a oportunidade de desenvolver um trabalho mais aprofundado surgiu. Paula Contaiffer, aluna e idealizadora do projeto, explica como a vontade de realizar uma abordagem holística durante os atendimentos deu origem ao projeto: “percebemos essa necessidade que eles têm de alguém que os veja com um olhar humanizado”. Uma vez identificado o escopo e em conjunto com a professora Elaine, o plano de oferecer uma assistência diferenciada se iniciou de fato.

Caráter excepcional e transitório

De acordo com o artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as instituições de acolhimento têm caráter excepcional e transitório. A regra é que crianças e adolescentes permaneçam o mínimo possível, uma vez que todas as instituições que compõem a rede de proteção à infância e adolescência estariam unindo esforços na busca do restabelecimento do direito à convivência familiar e comunitária dos acolhidos.

A realidade brasileira, entretanto, ainda está muito distante do que se prevê em lei, e é comum meninos e meninas permanecerem por muito mais tempo que o esperado. Neste sentido, o programa Acolher ganha destaque como ferramenta que acompanha e auxilia no crescimento saudável, orienta o progresso sadio dos jovens, considerando fatores biológicos, psicológicos e sociais das novas gerações de brasileiros.

Primeiro passo: avaliação e plano de intervenção

Como primeiro passo, o Acolher oferece consultas de enfermagem em que são realizadas as avaliações clínicas das crianças e adolescentes e traçados planos de intervenção individual. Dessa forma, é possível atender à singularidade de cada criança e adolescente, considerando todos os aspectos para o crescimento e desenvolvimento saudável de cada faixa etária e, especialmente, os elementos que compõem as histórias de vida dos abrigados. Se há necessidade de uma avaliação multiprofissional, o encaminhamento para os locais especializados é realizado no próprio atendimento.

Consultas frequentes e proximidade

Por meio de consultas frequentes e do desenvolvimento de uma relação de proximidade, os participantes do programa percebem um grande avanço no trabalho com as crianças: “Durante as consultas e a elaboração do genograma percebemos que, a cada encontro, eles têm nos dado uma maior abertura e contado a sua vivência familiar real”, relata Marcela Silva Carvalho, aluna do projeto. “Principalmente agora que a gente já se consolidou no espaço deles e construiu um vínculo de confiança demonstrando que gente está ali para realizar um trabalho contínuo”, completa Thaíssa Magela dos Santos, bolsista do Acolher.

As consultas vão de segunda a sexta e, aos sábados, são desenvolvidas ações variadas no abrigo. São atividades coletivas com fundo lúdico, mas que seguem as referências de Freire e da aprendizagem significativa. Ao final do semestre, um evento recreativo com atividades culturais e convidados especiais acontece fora do abrigo, como conclusão do tema abordado ao longo das consultas e trabalhos.

Para além das crianças e adolescentes

De acordo com a professora Elaine, o programa possui potencial para agir em mais áreas: “para o próximo ano pretendemos expandir para ações com as famílias, uma vez que parte das crianças e adolescentes podem retornar para suas casas e é importante que as situações de risco estejam resolvidas”, detalha.

O impacto do projeto vai além do constatado nos jovens - a formação acadêmica dos envolvidos é profundamente transformada, como destaca a aluna Thaíssa: “Ele [o programa] me possibilitou aprimorar práticas da enfermagem e trabalhar esse lado da sensibilização, humanização e empatia que eu acredito que são essenciais no cuidado”. A possibilidade de ser um fator de mudança da realidade e um estímulo para novos horizontes para crianças e adolescentes é uma característica marcante do projeto: “é um acolher com carinho, amor, com empatia, com respeito, dignidade. Ao respeitar e conhecer a história do outro, você pode intervir e melhorar as perspectivas de vida dele atuais e do futuro”, completa.

A premiação

Elaine Franco considera que a premiação no 15º Congresso Brasileiro de Adolescência é bastante enriquecedora, e ressalta a importância da pesquisa: “o reconhecimento externo trouxe para a equipe a certeza de que a escolha desse público é assertiva, pois são situações de alta vulnerabilidade, que muitas vezes não são acolhidas como se deveria na rede assistencial”. Além disso, o ambiente propiciou a troca de experiências e a divulgação das atividades de extensão da Universidade.

Para Marcela, participante do programa desde o seu início, a menção honrosa de melhor trabalho do estado de Minas Gerais recebida é uma confirmação de que estão no caminho certo. “Nosso trabalho tem atingido o objetivo de sensibilizar a comunidade acadêmica e fora da academia, mostrando a importância de trabalhar com essas crianças e adolescentes”, constata. O reconhecimento é igualmente comemorado por Paula, uma das autoras do projeto: “É uma honra e fico feliz em ver o projeto crescendo, ganhando voz, sendo reconhecido. Acredito que é uma iniciativa muito relevante para a sociedade, justamente por se tratar de uma parte da população esquecida pelas autoridades e comunidade acadêmica”.

Parceiros

O Acolher tem como parceiros o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adolescente (REMSA) do CCO/UFSJ, a Equipe de Saúde da Família São Paulo, localizada no bairro Realengo, a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do município, além do comércio local. Atualmente, o programa tem duas alunas bolsistas e 15 alunos voluntários.