Especial Dia do Professor: "Agora é com vocês!"

Publicada em 22/10/2019

Fernando Varotti, 42 anos, é professor do Centro de Ciências da Saúde da UFSJ, no Campus Centro-Oeste Dona Lindu, em Divinópolis. A história de como se tornou professor começa em família. Seus pais sempre prezaram a importância do ensino, e a mãe pedagoga ajudou a traçar seu caminho. Com eles, tomou gosto por estudar. Com o avô, tomou gosto por ser professor. “Meu avô sempre me instigava a fazer perguntas. Em nossas conversas, nunca aceitava nada pronto, era muito questionador”, relembra.

Depois de muito ser questionado e questionar, se formou em Ciências Biológicas na USP, em 1998. Após a graduação, Varotti começou a dar plantões em cursos preparatórios de São Paulo, “como um bico”, e passou a entender o que significava ser professor - lecionar, transmitir e receber informação.

O mestrado veio de forma natural. Depois de defender sua dissertação em Fisiologia Geral também pela USP (2001), brigou com a Academia. “Foi um momento de ruptura mesmo. Não é isso, não enxergo a Academia dessa maneira”, explica. Resolveu então colocar uma mochila nas costas, passando a dar aulas em várias partes do país.

Em suas andanças, passou por Paraná, Bahia, São Paulo e Minas Gerais. Não havia planejamento nem amarras. As faculdades particulares estavam se expandindo, e ofereciam contratos de trabalho por curtos períodos de tempo. Foi um momento crucial para a formação de Varotti. “Fui vivendo realidades diferentes, situações diferentes, públicos muito diferentes. Aprendi a ter mais paciência, a prestar mais atenção, a entender as demandas e limitações que as turmas traziam. Isso foi sedimentando a profissão”, analisa.

As variadas realidades do país se refletem no gosto do professor por lecionar à noite. “O público da noite depende do dia para trabalhar, mas parte do seu sonho se concretiza à noite.” As histórias de superação e as situações inusitadas dariam um livro. Exemplo: “ainda menino”, Varotti foi professor de senhoras e senhores de idade algumas vezes multiplicadas pela dele.

A história que mais o marcou se passou em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), no curso de Enfermagem da Unipac. “Tinha um aluno que trabalhava com o pai no varejão da família durante o dia e estudava à noite. Ele chegava na faculdade com o uniforme do varejão, sentava na primeira fileira e dormia.” A turma contou o que acontecia com ele, e eu relevava: deixava ele dormir, para ter um pouco de descanso.

Esse mesmo aluno pediu orientações sobre a melhor forma de estudar. Varotti sugeriu que estudasse em seu tempo livre e trouxesse as dúvidas para a sala de aula. Funcionou. Esse aluno é hoje enfermeiro em Belo Horizonte, e marcou a trajetória de nosso docente. “Ele me motivou muito. Foi um menino que mexeu comigo absurdamente, porque não desistia, não abria mão de estudar.”

Fernando Varotti fez as pazes com a Academia. Cursou doutorado em Farmacologia Bioquímica e Molecular em 2008, e pós-doutorado em Ciências Farmacêuticas em 2009, ambos na UFMG. Entrou na UFSJ logo em seguida, e trabalha no Campus de Divinópolis há uma década.

Com perfil voltado para pesquisa, acredita no trabalho diário realizado em sala de aula e na prática laboratorial para formar futuros educadores e pesquisadores. Para ele, é fundamental ensinar não apenas o passo-a-passo ou a técnica de um experimento, mas instigar os alunos a resolver problemas maiores, pensando socialmente.

Com isso, Varotti realiza o que considera ser o mais notável em sua profissão: não ser um obstáculo no processo de ensino-aprendizagem, mas sim orientar de acordo com as necessidades do aluno. “O grande projeto que eu tenho na UFSJ é formar uma segunda geração de pesquisadores e ter o prazer de um dia dizer: agora é com vocês!”, declara, orgulhoso.