Encontro discute as interlocuções entre psicanálise e autismo

Publicada em 09/12/2019

Na primeira semana de novembro, o Campus Dom Bosco sediou o III Encontro de Psicanálise: Autismo e Interlocuções, cujo objetivo foi debater temas referentes ao autismo além da área da Psicologia, como educação robótica e musicoterapia.

Iniciativa do Núcleo de Extensão em Psicanálise do Departamento de Psicologia, o Encontro se constituiu numa forma de qualificação e aprimoramento de alunos e profissionais da área. A professora Maria Gláucia Pires, organizadora, destacou que o evento reuniu professores de outras universidades para falar sobre o autismo a alunos da própria UFSJ, para relato e troca de suas experiências práticas.

Gláucia lembrou ainda a importância de unir sociedade e Academia: “Veio gente de Lavras para saber um pouco mais sobre a atualidade do autismo. É uma iniciativa que queremos realizar todo ano, para fazer circular o conhecimento tanto dentro da Universidade quanto fora.

A mesa de abertura do evento discutiu as atividades da clínica de autismo do Programa Pintando o Setting, que funciona há três anos. O projeto de extensão do curso de Psicologia da UFSJ atende crianças e familiares sob uma abordagem psicanalítica, em interlocuções multiprofissionais com oficinas de música e educação robótica.

As outras mesas de debate - “Robôs como mediadores de autismo” e “Linguagem, corpo e objetos no tratamento de autismo” - mostraram como é a prática psicanalítica no atendimento a crianças autistas. Houve também a apresentação de casos atendidos em São João del-Rei.

As palestras contaram com a presença da psicanalista Cristina Abranches Mota Batista, do CAIS de Contagem, que falou sobre autismo e inclusão; da musicoterapeuta Simone Pressoti, que discorreu sobre autismo e música; e da professora Suzana Faleiro Barroso, da PUC-Minas, que expôs o cenário atual do autismo.

“Apresentem coisas interessantes para os autistas”
A estudante de Psicologia Stéphanie Furtado iniciou, em outubro, projeto com crianças autistas cuja proposta é inserir robôs nas práticas cotidianas dos pacientes como um objeto que possa ser deslocado.

“O que a gente percebe, pela literatura, pela clínica e pela vivência do autista, é que desde bem pequeno ele carrega um objeto consigo e esse objeto é muito importante”, explica. Stéphanie, então, inspirada por uma palestra da pós-doutora autista Temple Grandin, teve a ideia de trabalhar com robôs, como forma de aproveitar o mundo tecnológico em que vivemos e seguir o conselho de Grandin: “Apresentem coisas interessantes para os autistas.”

No encontro, Stéphanie apresentou os resultados de seu projeto, coordenado pelo professor Eduardo Bento Pereira, que atua na área de educação robótica. “Nós colocamos o robô na clínica e apostamos que o sujeito vai interagir com ele. O direcionamento clínico toma cuidado para não ser invasivo para o autista”, elucida. Nesses primeiros dois meses do projeto, a análise está sendo feita com duas crianças; a primeira já fez usos interessantes do objeto.

“Uma nova possibilidade de interlocução”
A musicoterapeuta Simone Pressoti realiza trabalho em Belo Horizonte com crianças autistas como forma de estimular a comunicação, estimulando o interesse pelo universo sonoro. Para autistas não-verbais, por exemplo, a música é essencial. “A música entra como uma nova possibilidade de interlocução, de comunicação com o mundo externo. Cada vez mais a neurociência tem comprovado a eficiência e a importância da música para o desenvolvimento neurológico”, analisa Simone.

Além de autistas, esse trabalho pode ser realizado com crianças com Síndrome de Down e paralisia cerebral, por exemplo. É importante destacar que a musicoterapia deve estar a cargo exclusivamente por musicoterapeutas; nem sempre é um trabalho de rápido retorno: é importante que haja continuidade do tratamento.