Ex-aluno do Jornalismo ganha prêmio de melhor tese em 2020

Publicada em 25/06/2020 - Fonte: ASCOM

Marcelo Alves dos Santos Junior, egresso do curso de Jornalismo da UFSJ, é o autor da tese vencedora do Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela 2020. Intitulado Desarranjo da visibilidade, desordem informacional e polarização no Brasil entre 2013 e 2018, o trabalho de doutorado em Comunicação foi orientado pelo professor Afonso de Albuquerque e defendido ano passado na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Trajetória acadêmica
Durante sua graduação na UFSJ, Marcelo passou um semestre nos Estados Unidos em intercâmbio. Seu primeiro e mais importante contato com a pesquisa acadêmica, e que despertou o interesse pela temática da Comunicação Política, foi mediado pelo professor Luiz Ademir de Oliveira, com quem escreveu vários artigos em 2012 e 2013.

Então formado, já com a certeza de que gostaria de seguir pesquisando, Marcelo ingressou, em 2014, no mestrado em Comunicação da Federal Fluminense. Orientado pelo professor Afonso de Albuquerque, mapearam projetos em comunicação política digital, numa onda de extrema direita que já se revelava no mundo. “O mestrado foi muito importante na minha trajetória para expandir meu horizonte analítico e minhas possibilidades de leituras teóricas. A dissertação foi publicada em livro e me preparou para o salto da tese em 2016”, comenta o pesquisador.

Atualmente, leciona na Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro, e no Instituto Brasileiro de Análise de Dados (IBPAD), em cursos a distância. É coordenador de Comunicação Social da UFF, e trabalha em projetos variados de monitoramento de mídias sociais e a sistematização de grandes volumes de dados que por elas circulam.

Marcelo tem hoje a certeza de querer trilhar a carreira acadêmica e continuar desenvolvendo projetos com a sociedade civil e com ONGs nessa área de polarização, comunicação digital, plataformização e microdirecionamento de anúncios nas mídias sociais e ambientes digitais.

Doutoramento 2016-2019
A tese de Marcelo faz uma análise comparativa e longitudinal da crise política e democrática no Brasil, entre os anos de 2013 e 2018, no ambiente digital, especificamente no Facebook, principal plataforma de acesso às notícias e de consumo de informação política nas mídias digitais. Foram analisadas 2.500 fanpages, num recorte heterogêneo na imprensa tradicional de massa.

A proposta foi construir material analítico que desse conta de responder, tanto teórica quanto empiricamente, aos problemas que afetam a democracia brasileira, num momento em que o declínio da democracia e das instituições políticas de comunicação se constituía em fenômeno mundial, marcado pelo uso sistemático das mídias digitais em detrimento dos meios tradicionais.

A tese buscou demonstrar que o argumento segundo o qual as mídias sociais, as fake news e a desinformação foram responsáveis pela deterioração da cultura política e do ambiente democrático se assenta em chave analítica bastante redutora. Assim como imputar responsabilidades apenas à imprensa tradicional, à Justiça e ao desvirtuamento das funções das instituições políticas é também considerar somente parte do fenômeno.

Marcelo detalha: “Propus uma combinação que tenta mesclar as duas abordagens no contexto brasileiro de sistema midiático híbrido, para evidenciar que existe uma atuação das próprias instituições políticas e midiáticas tradicionais para minar as bases da democracia, por meio da espetacularização de escândalos como mensalão e operação Lava Jato, que alimentam a crescente desconfiança da população nos seus próprios processos e destroem, de dentro para fora, a saúde do sistema democrático.”

Como consequência, ocorre o que autor chamou de “plataformização da comunicação política”: toda essa facilidade da distribuição do conteúdo de ódio nas mídias sociais, proporcionado pela própria lógica algorítmica de economia da tensão, o que facilita e amplifica a ascensão de atores das frentes ideológicas de extrema direita que passam a pautar a agenda pública. Sob esse pano de fundo, a polarização das redes, o desarranjo da visibilidade e a desordem informacional surgem como os três pontos específicos propostos por Marcelo para entender a complexidade de seu objeto de análise.

Desse “desarranjo da visibilidade” advém que atores bastante radicalizados de extrema direita, sobre os quais pouco se sabe (quem realmente são?), conseguem em determinados momentos uma visibilidade de cinco a dez vezes maior do que a imprensa jornalística. “Ou seja, o Jornal Nacional fica num patamar completamente secundário e marginal se comparado a uma plataforma digital como o Facebook”, destaca Marcelo. A desordem informacional que irriga a polarização, e faz brotar fake news, teorias da conspiração e fatos inverídicos que contaminam o arcabouço político, promovendo o colapso da confiança nas instituições democráticas.

Premiação
O prêmio da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Prêmio Compós) objetiva incentivar a produção científica de qualidade no âmbito dos programas de pós-graduação em Comunicação e gerar visibilidade a essa produção. A premiação das melhores teses e dissertações acontece anualmente, considerando os trabalhos defendidos no ano anterior ao da premiação. Os critérios de avaliação obedecem aos seguintes quesitos: relevância e atualidade do tema; logicidade da estrutura do trabalho; pertinência e solidez do suporte teórico; rigor metodológico; qualidade redacional e adequação às normas cultas da Língua Portuguesa e originalidade da proposta (para as teses).

A melhor tese e a melhor dissertação recebem Certificado de Premiação e publicação em e-book, além de inclusão na seção Prêmio Compós de Teses e Dissertações do website da Associação.