Pesquisa, informação e prevenção no combate à Aids na UFSJ

Publicada em 01/12/2020

A conscientização marcou o Dia Mundial de Luta contra a Aids na UFSJ. A data, celebrada em 1º de dezembro, é voltada às ações promovidas para o combate à doença que, só em 2019, infectou 1,7 milhões de pessoas no planeta, segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS). E marca também a abertura do Dezembro Vermelho, dedicado a disseminar informação sobre a pandemia da Aids, incentivando novos compromissos com a causa, sem deixar de considerar a solidariedade e a tolerância para com as pessoas infectadas pelo vírus HIV.

Com o intuito de reforçar as atividades da campanha, a Universidade destaca uma série de informações relevantes sobre o tema, enfatizando a necessidade da prevenção.

Quem se trata adequadamente não transmite
A epidemia da Aids começou há 40 anos, quando foram identificados casos de doenças atípicas em pessoas com deficiência imunológica. Logo o HIV foi descoberto. Ao longo dessas décadas, muitos estudos sobre a doença foram realizados, e vários medicamentos lançados para combater o vírus sendo que, especialmente a partir de 1996, uma nova classe de remédios (os inibidores de protease) possibilitou o controle efetivo da multiplicação do vírus.

Entre avanços recentes, de acordo com o professor de Infectologia da UFSJ, Gustavo Machado Rocha, análises mostraram que não há transmissão da doença se o paciente realizar o tratamento de forma adequada. “A pessoa em tratamento consegue controlar a doença, e deixa de transmitir o vírus. Assim, a ampliação da testagem é fundamental para que se possa identificar novos indivíduos infectados e iniciar o tratamento precoce, evitando novas contaminações.”

O docente explica ainda que o HIV se tornou uma doença crônica controlável a partir da Terapia Antirretroviral Combinada (“coquetel”), altamente eficaz, segura e de fácil uso no dia a dia. “São necessários cerca de um a três comprimidos por dia. A pessoa tolera bem e consegue ter qualidade de vida. O tratamento está indicado para toda pessoa que vive com HIV, para que ela não adoeça e não transmita o vírus ou, se descobre tardiamente, para recuperar a imunidade e não ter mais sintomas”, complementa.

A UFSJ também contribui com esse tratamento, ao disponibilizar, desde 2012, um ambulatório de HIV e Hepatites Virais, em parceria com a Prefeitura de Divinópolis, no qual, sob orientação do professor Gustavo Rocha, os alunos de internato do curso de Medicina do Campus Centro-Oeste Dona Lindu realizam atendimentos e ações de prevenção. Na Universidade, são promovidos ainda projetos de pesquisa na área de HIV, relacionados à adesão e à avaliação do Serviço de Assistência Especializada em HIV, Aids e Hepatites Virais do município.

Alternativas de prevenção
A campanha Dezembro Vermelho está voltada a ações que levam à prevenção e aos cuidados com a saúde. No Brasil, as intervenções ainda são focadas em mudanças de comportamento, reforçando a necessidade do uso de preservativos.

O professor Gustavo Rocha pontua que, para evitar novas contaminações, é preciso promover a prevenção combinada. “As pessoas sabem que é necessário usar o preservativo, mas não o utilizam, negligenciando o risco e a doença. Diante disso, é preciso adotar a educação sexual no ensino básico, na educação infantil. O ideal seria que antes de a pessoa iniciar a vida sexual tivesse acesso a essas informações.”

Como formas de se prevenir, o docente apresenta ainda as alternativas de profilaxia pré e pós-exposição. “A pessoa que tiver contato sexual desprotegido pode fazer um tratamento temporário de 28 dias para não estabelecer a infecção. Já a profilaxia pré-exposição pode ser realizada por pessoas que não têm HIV, mas possuem alto risco de contágio, fazendo uso de antivirais de forma contínua para reduzir o risco de contaminação.”

Finaliza destacando a importância de tratar outras doenças sexualmente transmissíveis, como as hepatites virais e a sífilis, que tornam as pessoas mais propensas a contrair o HIV. O uso de álcool e drogas também diminui a chance de se usar preservativos.

Preconceito prevalente
Do ponto de vista médico, o HIV é uma doença simples de tratar, principalmente se descoberta nas fases iniciais. No entanto, o preconceito ainda persiste em relação às pessoas infectadas.

O professor Gustavo Rocha explica que o estigma leva muitos pacientes a não contarem o diagnóstico para ninguém ou, até mesmo, deixarem de fazer o tratamento. “O preconceito contra o HIV ainda é enorme. Isso é descabido porque é uma doença já conhecida e que possui tratamento. É preciso lutar contra esse preconceito e podemos fazer isso com conscientização.”

Estatísticas positivas
A epidemia do HIV não está controlada, apesar dos avanços no tratamento. Dados da UNAIDS mostram que, até o final de 2019, 38 milhões de pessoas viviam com HIV no mundo. Desse montante, mais de 1 milhão são crianças de até 15 anos. Cerca de 20% dos infectados, ou seja, 7,1 milhões, não sabiam que eram soropositivas.

Contudo, os dados epidemiológicos mostram motivos para comemorar. Novas infecções por HIV foram reduzidas em 40%, desde 1998. Um total de 67% da população infectada teve acesso a tratamento, somando 25,4 milhões de pessoas. A mortalidade apresentou redução de 60%, desde 2004.

O laço vermelho
A campanha de conscientização sobre a Aids carrega como emblema o laço vermelho. Criado em 1991 pela Visual Aids, grupo de profissionais de arte de Nova York, a ideia foi homenagear amigos e colegas que haviam morrido ou estavam morrendo de Aids. Objeto e cor se impuseram pela ligação ao sangue e à paixão, inspirado no laço amarelo que honrava os soldados americanos na Guerra do Golfo.

Este ano, o UNAIDS publicou novo pedido, no qual apela aos países para que façam investimentos mais expressivos em respostas globais à pandemia, adotando um novo conjunto de metas ousadas e ambiciosas, mas alcançáveis, para o HIV. Se cumpridas, o mundo alcançará, em 2030, a meta de não mais classificar a Aids como ameaça à saúde pública.

Material da entidade também elenca evidências de o que funciona no enfrentamento ao preconceito relacionado ao HIV, em seis contextos para à pandemia do novo coronavírus. “A resposta ao HIV tem muito a ensinar na luta contra a Covid-19. Sabemos que, para acabar com a Aids e derrotar a Covid-19, devemos eliminar o estigma e a discriminação, colocar as pessoas no centro e basear nossas respostas nos direitos humanos e em abordagens com perspectiva de gênero”, incentiva o secretário geral da ONU, António Guterres.