Vídeo revela memória italiana em São João del-Rei

Publicada em 19/02/2021

No próximo domingo, 21, será comemorado o Dia Nacional do Imigrante Italiano. Para marcar a data, entidades ligadas à cultura e diplomacia italianas no país promoverão um evento virtual no YouTube. Na programação, está prevista a estreia do documentário Relatos afetivos, fragmentos da memória, da professora do curso de Jornalismo e do Programa de Mestrado em Letras da UFSJ, Kátia Lombardi (Dcoms).

Na primeira parte do evento, a partir das 16h, serão apresentadas informações sobre o novo Museu de Emigração Italiana, que será inaugurado na cidade de Gênova, na Itália. O porto de Gênova foi o principal local de partida dos imigrantes que sonhavam com uma vida melhor no Brasil e em outros países. A construção do novo espaço cultural será explicada pelo diretor do Galata Museu do Mar de Gênova, Pierangelo Campodomico, e pelo presidente do Comitê Diretor do Museu da Emigração Italiana, Paolo Masini.

Vídeo e memória
Às 16h45, está programada homenagem especial aos imigrantes, com a exibição do vídeo de autoria da professora Kátia Lombardi.

O documentário é resultado inicial de sua pesquisa de pós-doutorado, que investiga as relações afetivas e de memória de descendentes italianos em São João del-Rei. A cidade foi, a partir de 1888, um dos principais municípios mineiros a receber esses trabalhadores europeus, fato que teve grande influência em sua economia e cultura. No vídeo, Katia expõe os relatos de membros de cinco famílias que, por meio de seus álbuns de fotografias, revisitam suas memórias identitárias.

O Dia Nacional do Imigrante Italiano é uma realização do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, da ONG Ponte entre Culturas e do Museu Nacional de Emigração Italiana. e conta com apoio institucional da Embaixada da Itália em Brasília e do Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro.

Como assistir
Todo o evento comemorativo do Dia Nacional do Imigrante Italiano será transmitido pelo YouTube, por meio deste link, que só estará aberto a partir das 16h do domingo, 21.

Leia, a seguir, resenha publicada sobre o vídeo da professora Kátia Lombardi:

Relatos afetivos, fragmentos da memória:
a imigração italiana em São João del-Rei

     No Brasil, como forma de suprir a demanda de mão-de-obra nova – gerada após a abolição da escravidão em 1888 – foi alavancado um programa de estímulo à imigração, principalmente de europeus, que corroboravam os interesses das políticas migratórias vigentes no país. Um dos fluxos migratórios mais intensos foi o de italianos. Minas Gerais, embora não tenha sido o principal destino desse grupo, recebeu um número significativo de italianos no final do período imperial.
     Na cidade mineira São João del-Rei, a partir de 1888, começaram a chegar as primeiras famílias de imigrantes italianos. A Várzea do Marçal, ex-fazenda de José Theodoro, foi o local destinado a abrigar o Núcleo Colonial de São João del-Rei. O período de imigração se prolongou por várias décadas e, aos poucos, as famílias foram se adaptando à vida social, cultural e econômica da cidade.
     Neste vídeo (2021), convidamos alguns descendentes de famílias de imigrantes italianos residentes em São João del-Rei para relatarem suas vivências e histórias do tempo da imigração transmitidas pelos seus antepassados.
     Para além da pesquisa voltada para os arquivos oficiais e para a análise de dados relacionados às famílias italianas, o interesse aqui é o de dar voz aos membros das famílias de imigrantes. Ressaltamos a importância das histórias singulares e das pequenas narrativas, seguindo a proposta de Walter Benjamin de “escovar a história a contrapelo”.
     Não se trata de comprovar a fidedignidade dos relatos, nem discutir aspectos como credibilidade ou objetividade, mas sim, de colher histórias tendo a fotografia como agente propulsora da memória. Estamos lidando com o que restou da memória, com fragmentos e vestígios da história que ultrapassam os limites da experiência vivencial. Juntamente com a herança de traumas e de boas recordações dos que emigraram, a memória da segunda e terceira gerações opera uma série de apropriações e transferências culturais. Perguntamos então: Quais histórias foram deixadas de fora? Quais não foram contadas? Quem tem autoridade para falar e contar? Como as famílias passam suas histórias para as gerações seguintes?
     O vídeo faz parte do projeto de pós-doutorado Pós-memória, fotografia e relato oral: a imigração italiana em São João del-Rei (1888-1950) que vem sendo realizado por Kátia Hallak Lombardi, fotógrafa e professora da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Lombardi é pós-doutoranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários (UFMG) e à Cátedra António Lobo Antunes da Università Degli Studi Di Milano (Unimi). É também pesquisadora na área de imagem e memória, com ênfase em fotografia, poéticas do vestígio, documentário imaginário, narrativas orais e visuais.