Morre aos 89 anos o cientista são-joanense Hiss Martins Ferreira

Publicada em 03/09/2009

Faleceu nesta terça-feira, 2, no Rio de Janeiro (RJ), aos 89 anos, o cientista Hiss Martins Ferreira, um dos precursores da neurociência no Brasil. O pesquisador era natural de São João del-Rei e foi um dos incentivadores da criação em 1994 do Laboratório de Neurociência Experimental (Lanec) da UFSJ. Suas pesquisas em torno do fenômeno da “depressão alastrante” serviram de base para diversos estudos em todo o mundo.
Primogênito de uma família do princípio do século, Martins Ferreira foi criado em São João del Rei, onde seu pai exercia a Medicina e suplementava seu orçamento familiar com um Laboratório de Análises Clínicas, além de ministrar aulas de Biologia no Colégio Santo Antônio (atual campus Santo Antônio). Neste local freqüentou o ginásio e graduou-se no final de 1935, quando foi para o Rio de Janeiro para cursar Medicina. Formado, continuou as suas funções de técnico de laboratório na Cadeira de Física Biológica, posteriormente transformada em Instituto de Biofísica e onde permaneceu lecionando e realizando experiências.
O gosto pela experimentação científica esteve sempre presente em sua vida. Sua grande chance para ser pesquisador foi cursar Medicina ao tempo em que Carlos Chagas iniciava com todo entusiasmo a construção da sua versão do "Instituto de Manguinhos" na Praia Vermelha. Teve, então, a sorte de conviver com um grupo de pesquisadores brasileiros e internacionais de primeira linha que Chagas soube escolher para constituir a base sólida necessária ao desenvolvimento do núcleo de pesquisa que começara a formar. Durante vários anos acompanhou as experiências de Chagas com o peixe poraquê. Quando ficou claro que o mecanismo da eletrogênese das descargas elétricas deste peixe era análogo ao das fibras nervosas, dirigiu seu interesse para a atividade elétrica do cérebro em repouso e durante as crises epilépticas.
Depressão alastrante
Nesta época houve uma nova conjunção feliz em suas pesquisas: juntamente com Aristides Leão iniciou uma parceria científica cujo primeiro trabalho foi publicado em 1953 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências versando sobre a impedância elétrica do córtex cerebral durante a depressão alastrante. Este fenômeno descoberto por Aristides em 1944, conhecido como "spreading depression" ou "onda de leão", é assunto de grande interesse internacional em fisiopatologia de síndromes paroxísticas do Sistema Nervoso Central. Tentando entender a depressão alstrante puderam acompanhar de perto todas as idéias e cenários propostos para explicar o funcionamento do sistema nervoso nestas últimas cinco décadas. Seus trabalhos, realizados no Instituto de Biofísica, constituem uma simples e perseverante busca do conhecimento sem características de pesquisa competitiva ou corrida publicitária. Entre professores e alunos de Universidaes e Instituições de Pesquisa de vários países, conheceu e trabalhou com cientistas de grande porte.
(Com informações do Laboratório de Neurociência Experimental e Computacional – LANEC )