Oficinas de dança resgatam cultura africana no corpo

Publicada em 20/07/2011

A sala 317 do campus Santo Antônio da Universidade Federal de São João del Rei tem vivido dias de África neste mês de julho. Pela manhã, a turma chafurda na dança contemporânea daquele continente sob a batuta da bailarina e pesquisadora de cultura africana e afro-brasileira, Gaya Dandara. À tarde, é a vez do tambor ditar o ritmo do corpo na oficina Os Elementos dos Orixás no Corpo, coordenada por Adriana Aragão e Beatriz Coelho.

Até o final desta semana, a energia que emana das técnicas e histórias da cultura afro dominam o terceiro andar do campus. Adriana Aragão diz que o intuito não é o participante "sair dançando" somente, mas perceber o movimento em seu corpo - no caso, a partir dos estímulos da simbologia dos orixás.

Beatriz Coelho acrescenta que o candomblé tem uma cosmologia que permite a quem tem contato com essa visão particular de mundo experimentar novas posturas, detonar processos de autoconhecimento, resgatar memórias ou esclarecer questões, a partir da identificação com sua ancestralidade.

Isso não significa que a oficina tenha um cunho religioso. Os arquétipos dos orixás e suas associações com elementos como água, barro e ar são ressaltados nesse trabalho, que pretende autoconhecimento corporal e mental.

"É, antes de tudo, um trabalho em direção à saúde. As pessoas estão sempre em busca de alguma coisa, eu espero que além da curiosidade que a oficina desperta, encontrem esse ´algo mais´ ou, pelo menos, vão em busca de outras descobertas depois do curso", diz Aragão.

Durante as aulas, os alunos podem praticar movimentos e exercícios da dança dos orixás, ao som do toque percussivo e com orientações do estudo mitológico dessa cultura.

Reverberação. Depois de suas andanças pela África em busca de formação e de contato com a dança africana e suas matizes, Gaya Dandara tem se dedicado a passar os conhecimentos e experiências que adquiriu, enquanto continua sua pesquisa sobre ritmos brasileiros.

Na oficina preparada para o 24º Inverno Cultural da UFSJ, ela exibiu um vídeo do trabalho desenvolvido no Senegal com dançarinos africanos e da diáspora negra. Naquele país, onde permaneceu por quatro meses em uma pesada rotina de oito horas diárias de prática, Dandara teve contato com as técnicas de Germaine Acogny, precursora da dança africana contemporânea e discípula do coreógrafo Maurice Bejart.

"A intenção aqui é trazer o universo da dança africana contemporânea com o qual tive contato, que é diferente da dança afro-brasileira, e passar também conhecimentos das técnicas da Germaine", diz a professora.

Segundo Dandara, cada país incorpora suas matizes na dança africana, o que ela chama de reverberações. A retomada desse rico universo cultural africano, para ela, tem um sentido simbólico importante.

Ao pensar que as manifestações chegaram ao Brasil com a escravidão, Dandara destaca que os resquícios dela estão ligados à resistência, pois a história mostra que a cultura dominante preferiu ignorar ou afastar tradições importantes como a capoeira, o candomblé e o próprio samba. "O Brasil é o terceiro país em população negra fora da África e isso não pode ser ignorado".

 

 

Fonte: Jornal o Tempo - ANA CRISTINA D´ÁNGELO