O futuro do ensino superior em tempos de cortes orçamentários

Publicada em 22/08/2017

“Sou filho de escola pública”, assim afirmou o sociólogo e cientista político Emir Sader (UERJ) na última quinta-feira, dia 17, durante a conferência “A universidade pública diante das perspectivas econômicas”, realizada no teatro do Campus Dom Bosco. Esta foi a discussão que tomou conta da noite: a garantia de uma educação de qualidade como direito para todos os cidadãos. Educação essa, como pronunciou Emir, que se expandiu no Brasil, em anos anteriores, atingindo as camadas mais pobres e, hoje, se torna “vítima” dos cortes orçamentários governamentais, transformada em mercadoria na lógica neoliberal.

Por meio de uma linha histórica da esfera educacional, o sociólogo e cientista político apresentou fatos que interferiram na atual conjuntura da educação brasileira e traçou como as instituições devem se preparar para o futuro, de forma a garantir um ensino superior de qualidade. De modo didático, Emir Sader define termos evidentemente complexos, tornando-os claros pela associação com acontecimentos antigos e contemporâneos. Com uso estratégico das palavras, ele critica com gentileza, o que arranca risos dos presentes, sem deixar de ser enfático na posição que assume.

“Não quer que se pense, leia ou questione”. Logo, Emir entende que a universidade não atende aos desejos do neoliberalismo, já que a enxerga como potencial espaço para se pensar a democratização, visto que ela gera discussões sobre uma diversidade de assuntos, abrangendo os mais variados pontos de vista. Sendo assim, ele pensa que defender a educação de qualidade, no momento atual, é defender a própria democracia.

Quem escuta as palavras de Emir Sader não assume uma postura passiva, mas levanta questionamentos sobre o que é apresentado. Por isso, a conferência foi encerrada com um espaço para perguntas dos presentes ao conferencista. No fim, uma questão inesperada feita pelo condutor da mesa, o professor Glauco Manuel, do Departamento de Ciências Econômicas: “Qual mensagem você deixaria para a universidade daqui a 30 anos?” A mesma pergunta que integra a intervenção “A urna da minha aldeia”, em que o público redige mensagens para os próximos 30 anos da Universidade, compondo a urna uma cápsula do tempo, que será reaberta apenas em 2047 nos 60 anos da UFSJ. A resposta de Emir não poderia ser diferente: “Todos os seres humanos nascem desiguais, mas têm os mesmos direitos”.

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH), Emir Sader é graduado e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), sendo doutor em Ciência Política pela mesma instituição. Já teve experiências na área de Ciência Política e Sociologia, com ênfase em Estado e Governo, e atualmente tem o cargo de Presidente do Comitê Científico Consultivo do Programa MOST (Gestão de Transformações Sociais) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Coube a ele finalizar o ciclo de debates em comemoração aos 30 anos da UFSJ, que discutiu ao longo deste ano os papéis e desafios na consolidação das universidades públicas no país.

Emir Sader, o nome certo, no momento certo, para encerrar as conferências.