Um memorial de TCC para refletir e florescer

Publicada em 04/10/2017

Com a câmera fotográfica de um celular, a aluna de Artes Aplicadas da UFSJ Isis Bey Trindade produziu documentário sobre arte e problemas sociais, que acompanha sua série de cerâmica

Isis Bey Trindade, aluna recém-formada no curso de Artes Aplicadas da UFSJ, inovou na produção de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Em vez de aplicar recursos tradicionais, como o texto impresso ou a defesa oral, a estudante utilizou a câmera de seu celular para elaborar um vídeo documentando a investigação científica. O material audiovisual denominado “Refletir e Florescer” assume o papel de memorial descritivo, acompanhando uma série de cerâmica do mesmo nome. 

“Refletir e Florescer” trata desde a concepção de arte até assuntos sociais, como racismo e abuso infantil. Na definição da própria autora, é um documentário de mídias móveis de dimensão autobiográfica. “Esse filme sou eu! E é, em grande parte, feito das indagações e significados que permeiam não só meu fazer artístico, mas minha vida”.

Ao elaborá-lo, Isis desejava construir um produto acessível e simples, por isso utilizou apenas um celular de memória reduzida, o Movie Maker, como programa de edição e um tripé de cerâmica, feito por ela mesma.

Desde a disciplina “Laboratório de Criação”, do curso de Artes Aplicadas da UFSJ, Isis sabia que sua pesquisa deveria ter relação consigo própria. Por isso, ela analisou seu trabalho de cerâmica e o porquê de realizá-lo, partindo, a princípio, em busca da resposta à questão “O que é arte?”.

Além das entrevistas com artistas de referência, a estudante leu inúmeras definições e teóricos que acrescentaram à pesquisa. Contudo, para Isis, era muito restrito traduzir toda a experiência desse processo em modelos acadêmicos. Foi aí que nasceu a ideia do documentário como uma provocação do professor Ricardo Coelho, orientador do trabalho, que já conhecia o interesse da aluna pelo audiovisual.

O trabalho foi apresentado, pela primeira vez, no Auditório do Campus Tancredo de Almeida Neves (Ctan), no dia 23 de agosto, como parte da Semana de Artes Aplicadas. Durante o evento, a estudante assumiu a responsabilidade por um projeto fora dos padrões estabelecidos e exibiu o produto. No fim, ele recebeu nota máxima pela banca avaliadora, formada pela professora Zandra Miranda e pelo professor Cristiano Lima.

O professor Ricardo Coelho acredita que esse reconhecimento vem do modo diferencial como o trabalho foi registrado. “Mais do que um memorial, estamos diante de um artigo científico, talvez algo mais elaborado ainda, um ensaio, com citações, entrevistas, filmes, bibliografia de referência e o próprio posicionamento crítico da autora. A diferença fundamental é que o registro dessa pesquisa foi realizado em vídeo.”

Posteriormente, a ideia já mobilizou outras ações nesse sentido. Entre elas, destaca-se a exibição quinzenal, aberta ao público, de vídeos sobre cerâmica no Museu do Barro, a tradução em libras do documentário “Refletir e Florescer” pelo Setor de Inclusão e Assuntos Comunitários (Sinac) da UFSJ e o curso de edição e criação de vídeos, de nível básico, ministrado pela estudante à comunidade.

Para Isis, esses desdobramentos representam o início de sua carreira como artista. “Encerro os estudos com a convicção de que esse conhecimento adquirido deve retornar ao povo, que é o grande financiador do ensino público, gratuito e de qualidade. Minha contrapartida é a arte”, afirma.

Para assistir ao documentário completo, acesse o link https://goo.gl/cNXjzZ.