Saiba como foi o X Seminário Saúde e Educação

Publicada em 20/04/2018

Saúde Mental e Trabalho. Este foi o tema do X Seminário Saúde e Educação, que aconteceu no dia 15 de março no auditório do Campus Dom Bosco da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Realizado pelo Núcleo de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde (Nepis), o objetivo foi mostrar as formas de intervenção da Psicologia.

Os três palestrantes convidados foram Elisiene Chaves Fagundes, psicóloga do Serviço Especial em Saúde do Trabalhador (SEST) do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte; Manoel Deusdedit Júnior, psicólogo, que é mestre em Engenharia de Produção e doutor em Psicologia pela UFMG; e Renata Bastos Ferreira Antipoff, psicóloga, mestra em Engenharia de Produção e doutora em Educação pela UFMG.

O Seminário abordou especialmente Saúde Mental e Trabalho. A psicóloga do trabalho Matilde Agero Batista ressalta que é importante conhecer melhor o tema, já que “o adoecimento mental no trabalho vem aumentando assustadoramente”.

O palestrante Manoel Deusdedit apresentou a sua tese de doutorado, a qual investiga o papel da categoria trabalho na redução da distância entre alguns dos dispositivos do Sistema Único de Saúde (SUS) em Betim, com enfoque maior em um dos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersam) e o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Ceres). Ele apontou algumas das possíveis causas para o fosso existente entre o campo da Saúde Mental e o da Saúde do Trabalhador. Relatou, ainda, que a visão do trabalho como fonte de saúde é comum aos dois dispositivos (causas do fosso e da falta de articulação), representando uma possibilidade de aproximação entre eles, e observou embriões que apontam na direção de uma maior articulação entre os dispositivos envolvidos. Sobre isso, Manoel Deusdedit explica que, “nesse processo, a incorporação da categoria trabalho pode trazer avanços, sobretudo, porque essa pressupõe a superação da dicotomia indivíduo/sociedade, permitindo, assim, contemplar, tanto a dimensão coletiva, quanto os aspectos singulares dos processos saúde / doença.”

Em seguida, a psicóloga Elisiene Chaves Fagundes discutiu a importância dos atendimentos aos trabalhadores e da criação de uma clínica psicológica do trabalho que possa ajudá-los na recuperação da saúde mental, como vem sendo feito na Pontifícia Universidade Católica (PUC)-Minas Betim. E apresentou elementos importantes que podem contribuir na discussão das formas de atuação das universidades em torno da saúde mental e do trabalho.

Finalizando o seminário, a professora Renata Antipoff, perita judicial na área de Psicologia do Trabalho, destacou que, no Brasil, dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) sobre a concessão de benefícios previdenciários de auxílio-doença mostram que os transtornos mentais, com destaque para o alcoolismo crônico, ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrências, e que estimativas do Dataprev preveem que, em 2020, os transtornos mentais serão a primeira causa de afastamentos do trabalho. Ela ressaltou que os problemas crescentes de adoecimento mental no trabalho não são problemas individuais, de uma fragilidade psicológica, mas são decorrentes das formas de organizar o trabalho. E que as empresas muitas vezes tentam culpar os trabalhadores pelos adoecimentos, mas, conforme minuciosa análise ergonômica e psicológica, é percebido que os problemas são oriundos do contexto de trabalho e que os impactos negativos na saúde não são casos isolados, mas deterioram a saúde do coletivo de trabalhadores, ainda que os sintomas sejam diversos.

Renata destacou, ainda, a importância de estudos que levem em conta uma análise criteriosa do trabalho, que seja ancorada no dia a dia, na forma concreta como os trabalhadores realizam sua atividade para que se possa garantir a compreensão dos determinantes do adoecimento no trabalho. E que qualquer análise baseada apenas no que se diz sobre o trabalho e nas normas nunca dará conta ou se aproximará do que ocorre nos processos saúde/doença no trabalho.

Nepis

O Núcleo de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde desenvolve, desde 2007, atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão na área da Saúde (coletiva e mental) por meio da realização de oficinas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

As oficinas têm como fundamento os trabalhos desenvolvidos por Nise da Silveira (1905-1999), renomada médica psiquiatra brasileira, e Enrique Pichon Rivière (1907-1977), psiquiatra e psicanalista suíço, nacionalizado argentino. A função principal é a formação de profissionais de novo tipo, ou seja, futuros profissionais que possam garantir as conquistas e dar continuidade aos movimentos de Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial.

Ao longo desses anos, foram efetuadas diversas parcerias para o desenvolvimento das atividades, dentre as quais com o Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier, Orquestra Popular Livre, Companhia de Teatro ManiCômicos. Recentemente, elas passaram a acontecer, também, no Fortim dos Emboabas, fortalecendo a integração dos usuários do CAPS com a comunidade.