Semana da Enfermagem discute protagonismo frente à Covid-19

Publicada em 25/05/2020

Nos corredores dos hospitais, diante dos leitos médicos: os/as profissionais de Enfermagem estão na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus. Sua função é garantir o cuidado básico de cada paciente: a alimentação, a higiene, o conforto e a prevenção de complicações. Por isso, seu trabalho é fundamental para o tratamento das pessoas acometidas por esta e por outras doenças, em cada um dos mais de cinco mil municípios do Brasil.

O protagonismo da Enfermagem frente à Covid-19 foi o tema da Semana de Enfermagem da UFSJ, realizada entre os dias 18 e 22 de maio, organizado pelo curso de Enfermagem do Campus Centro-Oeste Dona Lindu. Realizado por videoconferência, o evento contou com 901 participantes, de todas as regiões do país: docentes da UFSJ e profissionais de Enfermagem da região, docentes de outras universidades (UFMG, UFSCAR e Unicamp), profissionais do Samu, além de uma palestrante portuguesa.

Para a professora do curso de Enfermagem da UFSJ, Alba Otoni, a Semana superou as expectativas da organização, não apenas pela audiência, mas também pela qualidade das mesas de debate. “O uso da tecnologia nos permitiu trazer experiências variadas e alto nível intelectual, permitindo que o evento chegasse a quem não teria acesso presencialmente.”

Transmitida pela Plataforma Zoom, a programação contou com 12 palestras. Variados, os temas abrangeram diversos aspectos do exercício da profissão durante a pandemia, fossem técnicos, trabalhistas ou filosóficos. Entre eles, “Testes diagnósticos para Covid-19” e “Proteção e equipe do atendimento pré-hospitalar”.

Os processos na Covid-19
Uma das palestrantes, Alba Otoni tratou da descrição prática da assistência em Enfermagem, baseada no raciocínio clínico, ou na competência clínica. “Tratei de como se avalia e se tomam decisões rápidas, sem perder de vista a segurança do paciente; sobre assistência a pacientes internados em UTI’s e eventualmente entubados, a partir do raciocínio clínico.”

Do ponto de vista trabalhista, ela enxerga que esse momento é a oportunidade perfeita para que a população deixe de tratar os/as profissionais de Enfermagem como “anjos”, “heroínas”, adjetivos que, por mais carinhosos que sejam, os colocam na posição de “pessoas boazinhas que cuidam de outros”, em vez de profissionais que agem com pensamento crítico e baseiam suas ações na evidência científica.

“Acredito que nosso maior desafio é sermos valorizadas como profissionais competentes que somos, com salários justos e direitos trabalhistas respeitados”, enfatiza Alba. Do ponto de vista emocional, ela descreve um quadro de extremo desgaste: “Não há como sair dessa pandemia sem as marcas de quem enfrentou uma guerra.” Uma das palestras do evento, com professor Richardson Machado (UFSJ), tratou da síndrome do esgotamento profissional (de Burnout) entre enfermeiros e enfermeiras na quarentena.

Os desafios frente à pandemia
O também professor da UFSJ, Alexandre Ernesto, explica que a categoria de profissionais de Enfermagem divide-se entre enfermeiro/as, técnicos/as e auxiliares, que por sua vez assumem as responsabilidades de suprir as necessidades materiais de um hospital e controlam os insumos necessários para seu funcionamento, além de gerirem a interlocução com os demais profissionais que trabalham no local. Em linhas gerais, sua função é “gerir o cuidado”.

Por mais que sejam os cuidados “básicos” a principal ocupação da Enfermagem, o professor ressalta que não quer dizer que a tarefa seja “simples”. “Podem ser complexas, como cuidar de pessoas gravemente enfermas em UTI’s ou de recém-nascidos prematuros que pesam 400 gramas.” Apesar da complexidade de seu ofício, a categoria sente sua importância subestimada, pelo estereótipo de apenas assessorar outras profissões. “A Enfermagem é uma ciência”, reforça Alexandre.

Para quem exerce função essencial em meio à pandemia, os principais desafios dizem respeito às condições de trabalho: a oferta de EPIs, a carga horária excessivas a baixa remuneração, a falta de um piso salarial. “Lidamos inclusive com profissionais que recebem um salário mínimo por uma jornada de 12 horas, em que cuidam de 14 pessoas.” Por mais que este seja um momento singular, a precariedade do trabalho é uma questão histórica, relembra Alba Otoni. “Há muito tempo que se dorme no chão, há muito tempo que se tem que trabalhar em muitos empregos para alcançar um mínimo de condições de vida digna.”

Deve-se considerar a pressão psicológica forçada pelas circunstâncias, o que envolve, por exemplo, o medo de perder um paciente, de se contaminar, ou à sua família. Para evitar o desgaste emocional, o professor Alexandre Ernesto sugere que, nos momentos de descanso, cada um se dedique ao que lhe faz bem. “Ouvir música, estar com seus familiares quando possível, praticar a sua religiosidade, dançar, fazer exercício físico para se afastar da pressão e do medo do dia a dia”, ensina.