Sobre o poder de ser quem se é

Publicada em 23/03/2021

Rebeca Oliveira

O título do livro pode tentar, mas não se engane. Os sete maridos de Evelyn Hugo é a história de uma mulher que recupera a narrativa de sua vida, independente de seus casamentos. A história começa com Evelyn Hugo, superestrela de Hollywood dos anos 1950, aos 79 anos, vivendo reclusa em um apartamento no Upper East Side, em Nova York. Após anos de silêncio desde a morte de seu sétimo - e último - marido, ela decide contar, pela primeira vez, às vésperas de seu aniversário de 80 anos, sua verdadeira história. A escolhida para essa missão é Monique Grant, uma jornalista desconhecida que não faz ideia de como seu nome foi notado pela atriz.

Acompanhamos Monique se preparar para as entrevistas, assistir aos filmes e ler os recortes de jornal que mostram pequenos vislumbres da vida de Evelyn antes de conhecê-la. A personagem escrita por Taylor Jenkins Reid se apresenta como uma mulher complexa, determinada e sem medo de julgamentos.

À medida em que mergulhamos no universo da Hollywood das décadas de 1950 a 1970, apresentam-se discussões sobre a representação feminina na mídia, na definição de sex symbol e na jornada de uma heroína que não segue os preceitos de moralidade que são esperados de uma mulher.

Os relacionamentos são ponto marcante na história de Evelyn Hugo, nos lembrando que, tanto quanto nos anos 1950, a sociedade ainda atribui o valor de uma mulher à quantidade de parceiros que ela já teve, assim como a sociedade heteronormativa define a sexualidade de indivíduos de acordo com o gênero do parceiro com quem se relaciona.

A narrativa de Reid é envolvente e nos faz pensar em quanto as mulheres que vieram antes de nós tiveram que batalhar para ter seus direitos reconhecidos e não ser apenas mais um rostinho bonito. A obra fala de relações humanas, prioridades de vida e debate o conceito de poder em uma sociedade machista. Traz finais surpreendentes e (nem sempre) felizes. Uma leitura fluida, cujas reflexões despertadas nos acompanham por um bom tempo.


Jornalista formada pela UFSJ, é repórter na Folha de S.Paulo, feminista interseccional e entusiasta de cultura pop