Professor Hygor Kleber (CCO) fala sobre a importância da vacinação
Publicada em 22/06/2021
Entrevistamos o professor Hygor Kleber Cabral Silva, vice-coordenador do curso de Medicina da UFSJ no Campus Centro-Oeste Dona Lindu (CCO), que nos traz informações importantes a respeito da vacinação contra a covid-19. Diante de tantas dúvidas sobre o assunto, Hygor reforça “a importância de resistir contra notícias falsas e fora de contexto, de combater o negacionismo científico e de orientar que sejam seguidas recomendações de cunho científico, fora do senso comum e da politização da doença.”
Quem pode e quem não pode tomar a vacina? Existem restrições específicas para a vacina de determinado laboratório? Posso tomar qualquer uma?
Considerando o contexto brasileiro, temos hoje regulamentadas para uso emergencial quatro imunizantes contra a covid-19: as vacinas dos laboratórios Sinovac/Butantan (conhecida como Coronavac), AstraZeneca-Fiocruz, Janssen (Johnson&Johnson) e Pfizer-BioNTech. As três primeiras podem ser aplicadas em qualquer pessoa acima de 18 anos e a última foi recentemente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicação em maiores de 12 anos de idade. As restrições mais importantes são relacionadas a esses limites de idade, que devem ser respeitados, pois não temos estudos de segurança e eficácia dessas vacinas em idades menores. Tivemos recentemente a recomendação da Anvisa de suspender a vacinação de gestantes com a Astrazeneca, pelo risco de complicações gestacionais, até que sejam feitos estudos mais robustos sobre essa segurança. O restante da população está apta a tomar qualquer uma dessas vacinas, sem contraindicações. A Organização Mundial da Saúde incentiva as pessoas a tomarem qualquer vacina contra a covid-19 que lhes seja oferecida pela autoridade nacional de saúde, assim que chegar sua vez na fila.
Quais são as possíveis reações causadas pela vacina e o que fazer caso elas aconteçam?
Vacinas são, de forma bem simplista, um agente terapêutico exógeno; portanto, assim como qualquer outro medicamento, pode provocar efeitos adversos mas, ao contrário de algumas drogas que estão sendo experimentadas em uso humano sem comprovação científica de segurança e eficácia em covid-19, os efeitos das vacinas são de forma geral leves a moderados e passageiros. Os sintomas relatados mais comuns se assemelham a um quadro infeccioso viral: dor no corpo, dor de cabeça, febre, náuseas, fadiga e dor no local de aplicação. Esses sintomas normalmente ocorrem por um a três dias, com raríssimas exceções. Casos eventuais de trombose vascular (coágulos sanguíneos) relacionados à vacina da AstraZeneca foram relatados na Europa e em outros países, inclusive no Brasil e, por isso, a Anvisa recomendou que essa vacina não seja mais aplicada em gestantes. Na Europa, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) desaconselhou a segunda dose para pessoas que tiveram evento trombótico após a primeira dose. Porém, a EMA continua reforçando que os benefícios em geral superam quaisquer riscos. Para os efeitos colaterais leves, analgésicos comuns ajudam a reduzir a dor e a febre: os recomendados são o paracetamol e a dipirona. Reações alérgicas a um dos componentes da vacina também podem acontecer em pessoas mais suscetíveis. Na suspeita de qualquer efeito colateral grave, o apoio do médico é essencial para determinar o que se deve fazer.
Existe contraindicação para o uso de medicamentos ou de bebida alcoólica antes ou após a vacinação?
Nos dias seguintes à vacinação, não é recomendado o uso de corticoides ou anti-inflamatórios, pois podem alterar a capacidade do sistema imune em gerar uma resposta adequada, exceto em casos especiais, sob orientação médica. O uso de bebida alcoólica também não é recomendado de 24 a 48 horas após a vacinação, mas essa recomendação está mais relacionada ao consumo crônico. O que se sabe é que o consumo exagerado de álcool pode também afetar a resposta imunológica, por isso deve-se evitar, tanto antes, quanto após o imunizante.
Quais os prazos aceitáveis para se tomar a segunda dose de cada vacina?
Para os imunizantes da Sinovac/Butantan (Coronavac), da AstraZeneca e da Pfizer, são necessárias aplicações de duas doses, variando um pouco o prazo entre elas. As duas doses da Coronavac devem ser aplicadas em um intervalo de duas a quatro semanas, enquanto nas da AstraZenceca e da Pfizer, o intervalo recomendado é de 120 dias (oito semanas). Caso esse prazo não seja respeitado, pode haver um prejuízo na eficácia, mas não há um prazo máximo ainda estabelecido. A vacina da Jansen é aplicada em uma única dose, e começa a ser distribuída no Brasil ainda neste mês de junho.
Qual o prazo de imunização de cada vacina após as doses recomendadas?
Existe uma variação nesse prazo, tanto pelos fatores individuais de cada pessoa como, também, pelo tipo de imunizante. Mas pelas informações que se tem até o momento, pesquisadores afirmam que entre 15 e 30 dias após a aplicação da segunda dose (ou da única dose, no caso da Jansen), o sistema imunológico já é capaz de se proteger contra o vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.
Quais os cuidados preciso continuar tomando mesmo depois de vacinado?
As vacinas disponíveis apresentam eficácia comprovada na redução de casos da doença, principalmente nos mais graves. Muito mais importante do que saber sobre a eficácia é conscientizar a todos da importância de se conseguir vacinar uma grande porcentagem da população, pois quanto maior o número de pessoas vacinadas, melhores serão os resultados no combate à pandemia e mais proteção se oferece - haja vista o que está ocorrendo em países como Israel, Estados Unidos, Inglaterra, entre outros. Enquanto o Brasil não conseguir vacinar massivamente, todos os cuidados de prevenção obrigatórios devem ser mantidos, como utilizar a máscara facial corretamente (cobrindo o nariz e boca e bem ajustada), higienizar as mãos com álcool em gel 70% ou água e sabão, manter o distanciamento social e desinfetar superfícies e objetos.
Para concluir, o professor Hygor Kleber cita um trecho do site da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais: “Portanto, tomar ou não uma vacina não é uma decisão que afeta exclusivamente a pessoa com essa decisão, ela interfere também na saúde de todos aqueles com quem convive. Por isso, a vacinação não é simplesmente uma questão de opinião, mas de conscientização social e saúde pública.”