Cartilha orienta a aprendizagem de habilidades sociais em tempos de pandemia

Publicada em 13/08/2021

É preciso, a cada dia, aprimorarmos o cuidado com as nossas crianças e adolescentes, tão afetados com o isolamento social causado pela pandemia da covid-19. Com o intuito de auxiliar responsáveis e educadores a realizar essa árdua tarefa cotidiana, foi criada, por estudantes da UFSJ, uma cartilha, em formato de e-book, de acesso livre, intitulada Habilidades sociais nos contextos de pandemia e pós-pandemia de covid-19: um guia para pais e cuidadores.

O material foi produzido por duas alunas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI-UFSJ), a mestranda Alessa Maria Leal Morais e a doutoranda Júlia Maria Girotto Agostini, durante a disciplina Habilidades sociais na infância e adolescência, ministrada pelo professor Lucas Cordeiro Freitas, do Departamento de Psicologia (Dpsic). Disponibiliza, também, o acesso a vídeos instrucionais, via smartphone, por meio de QR codes. O objetivo da cartilha é, segundo o professor Lucas Freitas, “auxiliar pais e cuidadores a promover a aprendizagem de habilidades sociais das crianças, minimizando os prejuízos interpessoais gerados pelas medidas de restrição durante o período de pandemia e pelas possíveis dificuldades de readaptação a serem vivenciadas no período de pós-pandemia.”

Habilidades sociais
O processo de construção da cartilha partiu da pesquisa de Alessa sobre o desenvolvimento infantil, que pensou num trabalho que pudesse ir além do objetivo acadêmico, agregando a pesquisa de Júlia, que tem como foco de estudo as habilidades sociais educativas. Júlia quem criou os vídeos no YouTube, um diferencial desse produto. “Esse trabalho conjunto entre as áreas, juntamente com o incentivo e auxílio do professor Lucas, foram cruciais para o desenvolvimento desse material, um processo de contribuição grandioso e gratificante para nós”, destaca Alessa.

A socialização, informam as pesquisadoras, é um processo essencial para o desenvolvimento da criança, e envolve a aprendizagem, a ampliação e o refinamento de comportamentos sociais e a compreensão dos valores e normas que regulam a vida em sociedade. Com a pandemia da covid-19, os momentos de socialização ficaram restritos em função do fechamento das escolas, da recomendação de permanecer em casa, da diminuição de atividades de lazer e do pouco convívio social. Nesse contexto, muitas crianças podem apresentar mudanças em seu comportamento e encontrar dificuldades em adquirir habilidades sociais, tanto no momento da pandemia, como no pós-pandemia.

Podemos observar, no trabalho de Alessa e Júlia, que a vida familiar – com suas interações significativas marcadas pelo afeto e hierarquia, com seu sistema de valores e normas e com a presença de pais como modelos –, é repleta de ocasiões para o desenvolvimento de habilidades sociais. É com os pais que as crianças aprendem a compreender e dar nome às suas emoções e sentimentos, a se expressar de maneira adequada, mesmo em momentos estressantes como a pandemia da covid-19, aprendendo valores como o respeito e a empatia.

O desempenho de tais habilidades vem sofrendo um impacto negativo, decorrente das restrições às interações sociais em tempos pandêmicos, que exigem, na opinião de Alessa, um profissional que consegue, com seu conhecimento, voltar-se para os outros. Esse projeto trouxe a ela mais bagagem para entender e orientar o desafio de se utilizar o ambiente domiciliar para o ensino de habilidades sociais.

Recomendações de cuidados
Crianças podem ter dificuldade em expressar claramente seus sentimentos, suas ansiedades e medos em relação à pandemia, e também em falar sobre a falta que sentem dos familiares e amigos. Muitas vezes, podem manifestar mudanças de humor (como irritação ou tristeza) e comportamentais, tornando-se mais agressivas ou reativas, ou mudando seus padrões de sono e alimentação. Celular e televisão tornaram-se ainda mais frequentes nas rotinas das crianças. O uso em excesso, de forma imprópria para a idade, pode gerar ansiedade, agitação e outros prejuízos. Por isso, tempo e conteúdo precisam ser monitorados, e novas atividades, propostas. Procure demonstrar afeto e atenção a seus filhos e tente ajudá-los a expressar de maneira adequada esses sentimentos. Aproveitem as atividades do dia a dia para conversar e dialogar sobre bons exemplos de solidariedade e cooperação em casa e no mundo.

Reserve momentos para desenhar, escrever cartas e ligar para amigos, familiares e pessoas queridas, para brincar, caminhar ao ar livre, ler histórias, pintar ou desenhar.

Elogie e incentive os bons comportamentos de seu filho e de pessoas ao redor, promovendo um clima familiar agradável. Observe quais habilidades sociais seu filho ainda tem dificuldade: negociar regras, solicitar ajuda, aguardar sua vez, lidar com o fracasso, pedir desculpas? Planeje atividades e jogos que favoreçam o treino dessas habilidades.

Emoções como medo, raiva e tristeza podem ser abordadas por meio de jogos da memória, de perguntas e respostas, bingo, mímica, fantoches, que dramatizem situações nas quais a criança se viu obrigada a lidar com sentimentos conflitantes. Assim, aprenderá a nomear e expressar suas emoções de forma socialmente habilidosa, sendo mais assertiva nos relacionamentos interpessoais.

À medida que as crianças forem retornando aos ambientes que frequentavam antes da pandemia, pode ser que necessitem de ajuda nesse processo de readaptação. É importante garantir a proteção e a compreensão de seus filhos em relação às mudanças ocorridas nos diversos ambientes sociais (distanciamento, uso de máscaras, evitar contato físico, entre outras).

Podem surgir dificuldades em conciliar as demandas da casa, da escola e das diversas atividades às quais irão retornar presencialmente. Tente estabelecer uma rotina lúdica, utilizando desenhos, gravuras ou pinturas para marcar as tarefas ao longo do dia, sem descuidar do tempo reservado a atividades de lazer.

Com eventual retorno das aulas presenciais ou do ensino em formato híbrido, aproveite para ensinar às crianças a cumprimentar, agradecer, despedir-se e esperar sua vez para falar, pois isso faz parte da habilidade social chamada civilidade, além de ser um ato de gentileza.