Duas histórias para além de outubro: a luta contra o câncer de mama precoce

Publicada em 01/11/2021

Luciana e Lilian se conheceram no consultório do mastologista. Elas tinham menos de 30 anos, e não se encaixavam nas estatísticas do Instituto Nacional do Câncer para as probabilidades de desenvolverem câncer de mama. Enquanto Luciana aguardava na sala de espera a sua primeira consulta, com o resultado de seus exames em mãos, viu Lilian sair chorando do consultório. O que ela não poderia imaginar é que as lágrimas eram de alegria: Lilian chorava pela confirmação de que sua mastectomia tinha sido um sucesso.

O contato inicial de Lilian foi com a mãe de Luciana. Nesse rico compartilhar de informações e solidariedade, ela pode ajudar toda a família da amiga a passar por esse momento crítico com mais leveza. Mesmo já tendo finalizado suas sessões de quimioterapia, Lilian fez questão de acompanhar Luciana ao longo do tratamento que se iniciava.

As duas amigas representam milhares de outras jovens, que passaram ou que estão passando pelos rigores do câncer de mama precoce. Elas fazem questão de deixar seus depoimentos registrados aqui, no intuito de ajudar outras mulheres no cuidado com o corpo e na necessidade da prevenção da doença. Ouçamos suas histórias:

Lilian Penido Rosa, 34 anos, farmacêutica
Aos 29 anos, Lilian [à direita na foto] descobriu o câncer de mama. Após ter identificado, em 2013, um nódulo benigno, ela passou a ter mais atenção ao seu corpo. Em 2017, ao fazer o autoexame, sentiu um caroço relevante na mama e já no dia seguinte procurou ajuda médica. Rapidamente realizou os exames de mamografia e ultrassom das mamas e a biópsia. “Depois de 15 dias, quando eu abri o resultado, meu mundo caiu.”

A partir de então, sua vida passou a ser a de uma paciente oncológica. Quimioterapia, radioterapia, mastectomia (retirada cirúrgica de toda a mama), reconstituição da mama e, enfim, a cura! “Dói ficar careca, usar lenço, usar peruca, dói ter que tirar o seio. Doeu em mim e em toda a minha família”, relembra. Lilian congelou seus óvulos, em função da possível infertilidade causada pela quimioterapia, fechou a farmácia de que era proprietária, mas conta que a maior reviravolta foi a forma com que hoje passou a enxergar a vida: “o que me tocou foi principalmente deixar de dar importância a coisa supérfluas.”

Lilian reforça a importância de as mulheres não se apegarem a nenhum rótulo em se tocar, pelo contrário: devem fazer o acompanhamento ginecológico desde cedo, ter uma boa alimentação e cuidar da saúde de forma geral. O apoio emocional da família e das pessoas a seu redor, assim como o acompanhamento psicológico, foram fundamentais para que ela passasse por essa luta fortalecida. “Perdi amigos com a mesma doença. Durante esse trajeto, aprendi que cada um tem a sua história, e a minha é estar aqui hoje para contar essa história. Quero abrir um grupo de apoio com minha psicóloga, para amparar pacientes e familiares.”

Vale lembrar que não havia casos da doença na família de Lilian. O resultado de seu estudo genético deu negativo.

Luciana Peixoto Finamor, 29 anos, estudante de Engenharia de Produção no IF-Sudeste MG/Campus Congonhas e empreendedora
Luciana descobriu o câncer na mesma semana em que entrou na faculdade, e isso lhe deu mais força para lutar, pois estudar numa universidade federal sempre fora seu sonho. “Esse foi o sinal que recebi para seguir em frente.” Não abandonou os estudos “por pura insistência”, e porque teve uma sólida rede de apoio para prosseguir. “Se sentir acolhida é fundamental para que a gente queira continuar e lutar contra a doença”, afirma.

Diagnosticada com câncer de mama aos 25 anos, Luciana [à esquerda na foto] também descobriu a doença ao realizar o autoexame e, portanto, faz questão de reforçar a importância da campanha Outubro Rosa. “Ao me examinar, percebi um caroço nos seios do tamanho de uma bolinha de gude: foi quando procurei um mastologista. Confesso a vocês que jamais imaginei que poderia ser câncer, por eu ser tão nova.”

Assim como Lilian, sem caso genético na família, Luciana não precisaria fazer mamografia devido à idade. Mas ela alerta: “Não espere sentir dores para procurar um médico. No meu caso, o câncer não foi dolorido. Após realizar a biópsia e receber o diagnóstico de câncer de mama na flor da idade, eu só me imaginava careca, e nunca vou esquecer aquele dia, ao olhar para minha mãe chorando, meu único pensamento era: não posso desistir, por ela.”

A quimioterapia foi a parte mais difícil, mas também a responsável pela cura. “Os efeitos colaterais são penosos, afetam nossa saúde mental – a baixa autoestima, a vontade de desistir, a vontade de se isolar –, que deve ser observada durante todo o tratamento.”

Foram muitos os desafios diante do câncer precoce. Hoje, passados quatro anos do diagnóstico, Luciana enfoca a importância do autoexame e a realização de exames o quanto antes. “Um conselho que dou a todos é: não esperem! Procure um médico assim que perceber qualquer alteração em seu corpo. O câncer tem cura, e há vários tratamentos para retardar seu avanço.”

Luciana convive atualmente com a doença nos ossos, faz tratamento com uso de medicação somente, em casa, apoiada em sua enorme vontade de viver.