Pesquisadores da UFSJ avaliam a realização da COP26

Publicada em 17/11/2021

As mudanças climáticas, discutidas na COP26, são uma questão de sobrevivência para o homem e os demais seres vivos. É o que explica o professor do Departamento de Engenharia de Biosistemas (Depeb), Rogério Martins Maurício.

Para ele, se as mudanças não forem contidas, os efeitos já vivenciados, como incêndios, secas e falta de água, vão se intensificar. O pesquisador viu a realização da Conferência Mundial, que terminou em Glasgow (Escócia), como um “momento único”, em que 197 governos (“menos o Brasil”) debateram ações para redução da temperatura mundial, por meio de mecanismos de adaptação e mitigação de gases do efeito estufa.

Rogério Maurício é pesquisador ligado a importantes entidades internacionais na área de pecuária sustentável, como a Agenda Global for Sustanable Livestock (GASL) e a Rede Pastoamerica, e realizou em fevereiro deste ano um evento internacional que reuniu 142 pesquisadores que discutiram a resiliência em sistemas agropastoris e silvipastoris, bem como nos setores de produção de carne e de leite.

Recentemente, o professor da UFSJ publicou um artigo (clique aqui) sobre a resiliência dos sistemas silvipastoris em periódico eletrônico coordenado pelo SEBI-Livestock, Centre for Tropical Livestock Genetics and Health (CTLGH), the Global Academy of Agriculture and Food Security (GAAFS), todas da Universidade de Edimburgo (Escócia), e o Livestock Research Institute (ILRI), situado em Nairobi, no Kenya. “Estas organizações participam da Comunidade de Dados para Decisões sobre Rebanhos (LD4D). Ou seja, todas estas instituições têm elevado peso nas políticas públicas ligadas ao setor e, portanto, impacto mundial, inclusive na COP26”, explica o professor.

Há 15 anos desenvolvendo no Maranhão pesquisa que deu origem ao artigo, Rogério observa que os resultados de sua publicação conjuntamente com outros estudos de caso foram enviados à COP26 de diferentes formas, auxiliando os mediadores em demonstrar e buscar alternativas sustentáveis para a pecuária, bem como reduzir os efeitos das mudanças climáticas.

COP26

Para o professor Rogério Maurício, o grande desafio das nações será transformar promessas em ações, e cita o caso do Brasil, que “promete conter o desmatamento ilegal, mas não o legal, ou seja, desmatamento é uma ação que vai continuar a existir no Brasil”.

Por outro lado, segundo o pesquisador, na condição de um dos maiores produtores de carne do mundo, o país não pode mais continuar tendo como base as pastagens de monocultura, com altas cargas de fertilizantes químicos e praguicidas. “É preciso buscar sistemas sustentáveis de produção como, por exemplo, os sistemas silvipastoris”, afirma.

Segundo Rogério Maurício, as mudanças que possam vir a ser adotadas têm que ter bases científicas, e não ações politicas sem embasamento em resultados comprovados pela ciência. Para isso, conclui, “investimentos devem ser feitos na ciência brasileira”.

Transição verde

Atuando na área de geografia física e realizando pesquisas relacionadas às mudanças nos regimes de chuvas na região Sudeste do Brasil e suas relações com a transformação da paisagem nesses ambientes, o professor do Departamento de Geociências (Degeo), André Batista de Negreiros, entende que a COP obteve avanços nas discussões e metas apontadas na COP de 2015, porém decisões importantes foram deixadas para a COP27, que irá ocorrer no Egito em 2022, apesar da necessidade de que as medidas precisam ser urgentes. “As nações mais desenvolvidas economicamente bloquearam diversas pautas importantes, como a regulação do mercado global de carbono e o financiamento de países em desenvolvimento, para que venham a realizar sua “transição verde”, observa Negreiros.

Para ele, podem se considerar como avanços da COP26 a consolidação do reconhecimento da necessidade de uma atuação contundente para frear a utilização dos combustíveis fósseis e a promessa de redução de 45% das emissões globais de CO2 até o fim da década, em relação aos níveis de 2010. “Essa taxa foi indicada pelo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), como essencial para atingir neutralidade de carbono até 2050. Mas de fato, o que vem se observando é que as ações realizadas até o momento não corresponderiam como medidas efetivas para conter o aquecimento global no século em curso”, comenta.

O professor destaca também o reconhecimento de países, que, diante do aumento da recorrência de eventos extremos e aumento do nível do mar, se encontram em situação de vulnerabilidade climática, dando início a um diálogo sobre compensações em nível global.
Brasil

Na visão do professor André Negreiros, a humanidade espera dos países ações efetivas para o controle de emissões de gases indutores do aquecimento global. “Até o momento, o avanço foi mínimo. Esse tema é de extrema urgência e importância para as gerações futuras e a sociedade atual”, explica.

Para André, o Brasil tem extrema importância no cenário climático internacional, e precisa atuar de forma mais incisiva na preservação de seus biomas, sobretudo a floresta amazônica. “O que não vem acontecendo, dado o retrocesso em políticas e fiscalização ambientais que ocorre nos últimos anos e que resultam em taxas de queimadas e desmatamentos altíssimos”, denuncia. A substituição dos diferentes biomas naturais, dando lugar a extensas áreas de agricultura e pecuária, vem resultando em diversos problemas ambientais no país, destacando o aumento do desmatamento e das emissões dos gases do efeito estufa.