"É pela esperança, pela dignidade humana, que damos viva à Ciência"

Publicada em 18/11/2021

A Ciência resiste! Essa é a síntese do XVIII Congresso de Produção Científica e Acadêmica da UFSJ, finalizado na sexta, 12, com apresentação do Coletivo Larvas e palestra do professor e diretor e fundador do Instituto Paulo Freire do Brasil, José Eustáquio Romão. Aliás, o patrono da educação brasileira estaria satisfeito: ao todo, foram mais de 800 apresentações nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, dando mostras da potencialidade da educação brasileira, ainda que sob ataque no momento atual.

A cerimônia teve início com a apresentação do Coletivo Larvas, grupo artístico de poesia fundado por Vinícius Tobias e Igor Alves, egressos da UFSJ, e apresentados pelo professor do Dcoms, Paulo Caetano. Ambos ressaltaram o importante papel da educação em suas trajetórias, e enfatizaram: “é pela vida, pela esperança, pela vontade, pela dignidade humana, que damos viva a universidade pública e a ciência”. Através da arte, o grupo conseguiu captar, com sensibilidade, o espectro de sentimentos que permeiam o atual momento, com a pandemia de covid-19.

Tal sensibilidade não passou despercebida pelo convidado palestrante: José Eustáquio Romão, que abriu sua fala chamando a atenção para o que é, de fato, uma universidade: para além da tradicional ideia de uma formação através da “educação bancária”, a essência está nos corredores, nos encontros e nos diversos espaços de sociabilidade, onde formam-se os poetas - afinal, educação e arte andam de mãos dadas quando o assunto é resistência.

Centenário de Paulo Freire

Romão deu um panorama sobre a vida de Paulo Freire, suas influências intelectuais e sua indiscutível importância para a educação brasileira e do mundo, especialmente com a consagração da obra Pedagogia do Oprimido, que completou cinquenta anos em 2020. Bebendo de fontes de intelectuais marxistas, frankfurtianos e freudianos, Freire revolucionou não apenas o campo educacional, com seu olhar voltado para o ensino emancipatório, como também os campos da psicologia e da psiquiatria no Brasil, jogando luz para a situação do oprimido e do opressor, que, segundo ele, só se transforma a partir da ação e do amor. “Freire não foi apenas um intelectual, mas um militante político”, destaca.

“Mais do que atuais, são necessárias nesse momento”, diz Romão sobre as reflexões de Freire, especialmente para enfrentar o que ele chama de “neoconservadorismo”, fenômeno que tem sido uma constante em várias partes do mundo. Suas obras são exemplo do uso da educação como ferramenta de emancipação e transformação social; daí a imperativa necessidade de manter vivo seu legado.

Sua fala foi encerrada com a máxima da teoria freireana: a esperança e o esperançar - que não é sinônimo de espera, ressalta, mas sim de atitude. Por ter convivido com Freire, José Eustáquio compartilhou momentos ao seu lado, demonstrando não apenas sua genialidade, mas a humanidade que nele habitava. Na sequência, a professora Mônica Todaro, que mediou a palestra, direcionou algumas perguntas ao professor convidado, tanto sobre as obras do homenageado, quanto sobre a atual conjuntura brasileira em relação à educação, ciência e ao cenário político. E Romão foi enfático ao dizer: “tente enxergar a ciência que está no saber do oprimido”.

Destaques

Na sequência, o Pró-Reitor adjunto de Ensino de Graduação, Vicente de Paula Leão, e, a assessora de Assuntos Internacionais, Liliane Assis Sade Resende, parabenizaram os coordenadores do Seminário de Iniciação à Docência (SID), Luciani Dalmaschio e Alessandro Damásio, que atuam nos programas Residência Pedagógica e Pibid, ambos fundamentais para a formação de licenciandos na UFSJ e no contato com a educação básica.

Para finalizar, o Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Francisco Brinati, a , diretora da Divisão de Projetos e Apoio à Comunidade Universitária (Proex), Simone Bassi e o professor Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, André Baldoni, nomearam as apresentações destaques do CPC, com premiações e menções honrosas, que podem ser conferidas, na totalidade, na página do evento.

Baldoni destacou, ainda, a atuação de toda a comunidade acadêmica na realização desta edição do Congresso, a primeira em modalidade remota desde seu início. Para ele, os esforços somados mostram “a magnitude, a abrangência” do ensino, pesquisa e extensão na UFSJ. Ao seu lado, a reitora em exercício, Rosy Maciel Ribeiro, ressaltou “durante todos esses dias, pudemos acompanhar o quanto a nossa Universidade trabalha, produz e está focada, não só no seu próprio crescimento e aperfeiçoamento, mas também no atendimento das demandas da sociadade”. O tema central do evento, O papel da Ciência no enfrentamento às crises, foi retomado pela reitora, que afirma estarmos vivendo, sim, tempos de crise; porém, deixa claro a necessidade constante da luta, resistência e coragem através da educação, exaltando a memória de Paulo Freire. E provoca, ao final: “é preciso enxergar além das trevas dos tempos de hoje”.

A íntegra do cerimonial de encerramento do XVIII CPC já está disponível no canal do Youtube da TV UFSJ.