Alfabetizar na pandemia: pesquisa nacional coordenada pela UFSJ lança resultados
Publicada em 31/05/2022
Entender a educação básica e o processo de alfabetização no período da pandemia de covid-19 foi o desafio da pesquisa que será lançada em formato de e-book nesta quarta, 1º de junho, pelo canal Alfabetização em Rede, neste link.
Retratos da alfabetização na pandemia da covid-19: resultados de uma pesquisa em rede, organizado pela professora do Departamento de Ciências da Educação da UFSJ, Maria do Socorro Alencar Nunes Macedo e editado pela Parábola, teve apoio do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade, por meio do auxílio Proap/Capes. Para a organizadora, “é grande a alegria e o orgulho de ter pensado essa pesquisa e conseguido angariar tantos parceiros pelo país. A conclusão do trabalho faz com que os recursos públicos envolvidos possam retornar à sociedade.”
O livro apresenta pesquisa original que documenta os processos, práticas e desafios das docentes alfabetizadoras das escolas públicas do país. O acesso é gratuito aqui.
Socorro Nunes conta que, para o lançamento do e-book, foram dois anos de trabalho até a conclusão da primeira etapa da pesquisa. O grupo continua com nova pesquisa, acompanhando as crianças no retorno ao ensino presencial. “É um trabalho muito gratificante, são muitas pesquisadoras envolvidas, muitas universidades, os nossos instrumentos sendo construídos coletivamente. Nesse momento, estamos finalizando o primeiro instrumento dessa segunda fase da pesquisa. Nossa expectativa é que possamos cada vez mais informar à sociedade sobre o que de fato aconteceu e o que está acontecendo na alfabetização das crianças”, avalia.
De acordo com Socorro Nunes, a intenção das pesquisadoras é que os resultados possam contribuir para a formulação de políticas públicas para a educação básica, no intuito de minimizar o impacto que a pandemia teve na fase, a mais importante da escolarização na vida do sujeito: a alfabetização. “Tendo em vista que somos um país com muitos desafios na área da educação/alfabetização, a pandemia trouxe, além do agravamento da desigualdade social, o aumento da desigualdade no próprio processo de escolarização, como mostram os dados da pesquisa.”
O e-book
É resultado de um esforço intelectual de um grupo de pesquisadoras do país que se debruçou sobre as condições da alfabetização das crianças brasileiras durante a pandemia da covid-19. O coletivo, denominado Alfabetização em Rede, é constituído por 29 universidades e envolve cerca de 117 pesquisadoras.
Numa parceria inédita entre a Universidade e as docentes da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, foram produzidos, ao longo de 2020 e 2021, dados quanti-qualitativos que possibilitaram a construção de uma visão mais aprofundada dos desafios enfrentados na alfabetização das crianças da escola pública, buscando ouvir a voz docente. O livro apresenta dados de um estudo realizado com 14.735 professoras de 18 estados em todas as regiões do país, bem como dados dos grupos focais realizados com docentes de 11 estados.
Os resultados indicam que as professoras alfabetizadoras não receberam formação adequada das redes para lidarem com essa situação inédita. Entretanto, tiveram uma importante capacidade de dar respostas efetivas aos desafios postos, a fim de inventarem uma prática pedagógica que garantisse o mínimo de vínculo das crianças com a escola.
As condições de trabalho, que deveriam ter sido garantidas pelo poder público, foram providas pelas próprias docentes, agravando a desigualdade social do Brasil, que afetou duramente o ensino remoto emergencial para as crianças das camadas populares e, de forma mais aguda, para aquelas que vivem na zona rural, desconectados não apenas da internet, do acesso às tecnologias digitais, mas dos direitos à educação, à saúde, à moradia digna, ao trabalho e à alimentação.
Outra constatação importante se refere às possibilidades de utilização das tecnologias digitais como aliadas do processo alfabetizador. Muitas das estratégias e ferramentas utilizadas no ensino remoto emergencial serão adaptadas na prática, no ensino presencial. O medo inicial de não conseguirem trabalhar com esses recursos cedeu lugar à ampliação da compreensão do potencial dessas ferramentas na prática alfabetizadora.