Bibliotecas da UFSJ realizam campanha a favor da dignidade menstrual<br /><br />

Publicada em 08/07/2022

Foi diante da amplificação das discussões nacionais sobre pobreza menstrual, que as bibliotecas da UFSJ uniram-se numa campanha, com o intuito de colaborar para que esse problema, enfrentado por meninas e mulheres cotidianamente, seja minimizado.

De acordo com a idealizadora da campanha, a bibliotecária no Campus Sete Lagoas, Ana Lúcia da Silva Araújo, “a ideia é podermos contribuir socialmente, diminuindo os impactos do período na vida das alunas, pois sabemos que as condições financeiras limitam o acesso aos absorventes. Além disso, mulheres passam diariamente por problemas relacionados à menstruação que podem ser emocionais ou físicos. É uma situação paralela, que reflete em toda a vida social, profissional e acadêmica, e que não é levado em consideração.”

A campanha também tem a função de colaborar com os estudantes que precisam quitar suas taxas no setor, revertendo, dessa forma, esses valores em absorventes menstruais. Os cálculos são feitos de modo que haja um atrativo e que os alunos tenham a oportunidade de regularizar a situação nas bibliotecas. “Desta forma, temos a oportunidade de ter uma ação positiva para os estudantes e para quem será beneficiado”, conta Ana Lúcia.

Os valores foram calculados da seguinte forma: um pacote de absorvente, com oito unidades, cobre R$ 5,00 em taxas, ou seja, se a pessoa tem uma taxa de R$ 1,00 a R$ 5,00, deve doar um pacote para saldar o valor. Se a taxa for de R$ 6,00 ou R$ 7,00, a doação deve ser de dois pacotes.

O foco é distribuir os absorventes para as alunas da UFSJ, mas o material arrecadado também será colocado à disposição de todas que precisarem. Caso a arrecadação seja ampla, o excedente será doado para grupos comunitários.

Participam as bibliotecas de todos os campi de São João del-Rei, Sete Lagoas (CSL), Alto Paraopeba, em Ouro Branco (CAP) e Centro-Oeste Dona Lindu (CCO), em Divinópolis. A campanha vai até o dia 31 de julho.


Pobreza Menstrual no Brasil
Dados do Relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)


A pobreza menstrual é um fenômeno complexo, multidimensional e transdisciplinar, caracterizado entre outras coisas, pela a falta de acesso a produtos adequados para o cuidado da higiene menstrual, tais como absorventes descartáveis, absorventes de tecido reutilizáveis, coletores menstruais descartáveis ou reutilizáveis, calcinhas menstruais etc. É a falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento, para que meninas e mulheres tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação.

Lançado em 2021, o Relatório do UNFPA e do Unicef traçou um panorama alarmante da realidade menstrual vivida por meninas brasileiras. Uma discussão de saúde, que surge em resposta à desigualdade e a violações de direitos das pessoas que menstruam no país.

O Relatório traz um cenário preocupante com relação aos direitos menstruais, marcado pelas históricas desigualdades de gênero, raça, região e classe social, agravadas em tempos de crise sanitária e econômica. Como o documento descreve, a pobreza menstrual se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades, o que contribui para retroalimentar ciclos transgeracionais de inequidades de gênero, raça, classe social, além de impactar negativamente a trajetória educacional e profissional.

Os dados apresentados mostram que, quando não há acesso adequado aos produtos de higiene menstrual, meninas e mulheres fazem uso de soluções improvisadas para conter o sangramento menstrual com pedaços de pano usados, roupas velhas, jornal e até miolo de pão. Outra face do problema, para além dos meios improvisados, diz respeito à situação em que meninas e mulheres não conseguem realizar de três a seis trocas diárias de absorventes, conforme a indicação de ginecologistas, permanecendo com o mesmo absorvente por muitas horas. Como consequência desse insuficiente ou inadequado manejo da menstruação, podem ocorrer diversos problemas que variam desde questões fisiológicas, como alergia e irritação da pele e mucosas, infecções urogenitais como a cistite e a candidíase, e até uma condição que pode levar à morte, conhecida como Síndrome do Choque Tóxico.

Do ponto de vista de saúde emocional, a pobreza menstrual pode causar desconfortos, insegurança e estresse, contribuindo assim para aumentar a discriminação sofrida, a diminuição da concentração e da produtividade.

O relatório conclui, que o fenômeno da pobreza menstrual, demonstra o quão são negligenciadas as condições mínimas para a garantia da dignidade da pessoa humana, ignorando as necessidades fisiológicas de cerca de metade da humanidade, as meninas e mulheres. A partir dessa negligência, pode surgir a urgência de remediar os problemas, evitáveis, decorrentes da falta de manejo adequado da menstruação. Problemas esses, que seriam facilmente prevenidos com os devidos investimentos em infraestrutura e acesso aos produtos menstruais.