Publicado no The Lancet Psychiatry, artigo investiga mortes de pacientes com transtornos mentais graves

Publicada em 25/08/2022

Artigo da professora do curso de Medicina do Campus Centro-Oeste Dona Lindu (CCO), Ana Paula Souto Melo, elaborado em parceria com pesquisadores da UFMG e da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, foi publicado recentemente pelo renomado periódico internacional The Lancet Psychiatry, com repercussão no jornal Folha de S.Paulo, que estampou no último dia 16 reportagem sobre essa pesquisa.

Mortalidade por todas as causas e por causas específicas entre pessoas com transtornos mentais graves no sistema público de saúde do Brasil, 2000-2015: um estudo retrospectivo é um dos resultados do pós-doutorado da professora da UFSJ. De acordo com Ana Paula, o estudo utilizou uma coorte prospectiva não concorrente de dados secundários de pacientes selecionados na Base Nacional de Saúde, construída por pesquisadores da UFMG e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da mesma Universidade.

Trata-se de um banco de dados que integra informações dos principais sistemas de informação do Sistema Único de Saúde: Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), no período entre 2000-2015. “Esses dados foram trabalhados em conjunto com os pesquisadores do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington em Seattle, propiciando a utilização da metodologia de redistribuição de causas básicas de morte inespecíficas ou incompletas, conforme o estudo de Carga Global de Doenças (GBD, Global Burden of Disease) do IHME”, explica a professora.

Risco de morte
Segundo Ana Paula, o objetivo foi estimar o risco relativo e o excesso de mortalidade para todas as causas e por causas específicas em uma coorte nacional de pacientes internados com transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão, em comparação com outros pacientes internados de 2000 a 2015 no país, utilizando os dados do SUS. “O estudo mostra que pessoas internadas com transtornos mentais graves no Brasil têm maior risco de morte (27%) em comparação com pessoas internadas com outras condições clínicas, principalmente cardiopatia isquêmica. Além da prevenção do suicídio, intervenções para as mortes por causas externas, como acidentes e homicídios, são necessárias e urgentes. Pacientes jovens com transtornos mentais devem ser um grupo prioritário, tendo em vista que a maioria das causas de morte observadas nessa faixa etária, nesse estudo, são evitáveis”, afirma.

Para a pesquisadora, os cuidados em saúde mental podem se tornar uma oportunidade de avaliação médica geral, possibilitando medidas preventivas de saúde que salvam vidas. “Os resultados dessa pesquisa indicam a necessidade de remover barreiras à integração dos cuidados médicos e de saúde mental para pessoas com transtorno mental grave, a fim de reduzir o excesso de mortalidade nessa população”, acrescenta.

Continuidade
Ana Paula Souto é médica psiquiatra, com mestrado e doutorado em Saúde Pública. Atua como professora de Psiquiatria no CCO e no Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública da UFMG.

É muito importante, na opinião de Ana Paula, que esse monitoramento seja continuado e envolva outras condições psiquiátricas; para isso, é preciso investimentos e recursos para que a investigação prossiga. “A política de investimento em pesquisa no Brasil é de fundamental importância para que novos projetos como esse possam ter continuidade e possamos manter parcerias internacionais nas nossas universidades”, defende.

O estudo indicou que a maioria dessas mortes podem ser prevenidas. “Entendemos que precisamos avançar muito nas políticas públicas de cuidados em saúde para pessoas com transtorno mental, que historicamente sempre foram marginalizadas e excluídas. Os dados apresentados reafirmam essa vulnerabilidade”, conclui.