Câncer de mama: o efeito da pandemia e o diagnóstico precoce

Publicada em 21/10/2022

O cenário da pandemia da covid-19 afetou, de forma relevante, a realização de mamografias nos anos 2020 e 2021. Por receio de contrair o novo coronavírus, muitas mulheres deixaram de realizar o exame, que é uma das principais formas de prevenção do câncer de mama.

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam a mamografia anual para mulheres a partir dos 40 anos. Com o diagnóstico precoce, a redução da mortalidade por câncer de mama é de até 95%, quando detectado precocemente.

Luciana Lara dos Santos, médica e professora do curso de Medicina do Campus Centro-Oeste Dona-Lindu (CCO), em Divinópolis (MG),bexplica que o câncer de mama se tornou, em 2021, o mais incidente em mulheres no mundo, excluindo os tumores de pele não melanoma. “Sem dúvida, estratégias de prevenção e diagnóstico precoce são de extrema importância para a redução da incidência e mortalidade decorrentes da doença”, avalia.

Outubro é, mundialmente, o mês no qual se trabalham intensamente as ações afirmativas para diagnóstico e prevenção do câncer de mama, um movimento conhecido como Outubro Rosa. E neste Outubro Rosa, especificamente – além das ações mais comumente recomendadas, como autoexame das mamas, alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos e realização da mamografia –, a doutora Luciana chama a atenção para os cânceres hereditários. “Caso o câncer de mama se desenvolva em pessoas muito jovens (ou existam várias ocorrências da doença na família), de câncer de ovário ou mesmo em indivíduos do sexo masculino, podemos estar diante de um câncer hereditário, em que o risco de recorrência na família é alto.”

Estima-se que entre 5% a 10% de todos os tipos de cânceres se encontram associados à predisposição hereditária. “A identificação de indivíduos em risco para câncer hereditário é importante, porque os pacientes e seus familiares apresentam risco cumulativo vital muito superior ao da população para o desenvolvimento de múltiplos cânceres. Assim, medidas de rastreamento intensivo se mostram eficazes em permitir diagnósticos mais precoces”, orienta a médica.

Rede de pesquisas
Luciana é coordenadora de trabalho realizado em um projeto de pesquisa que faz parte da Rede Mineira de Medicina de Precisão, financiado pela Fapemig. Por meio de parceria entre a Unidade Oncológica do Complexo de Saúde São João de Deus, o Laboratório de Biologia Molecular da UFSJ e o centro de prevenção da Associação de Combate ao Câncer do Centro-Oeste Mineiro (ACCCOM), famílias com suspeita de cânceres hereditários são avaliadas, para o estabelecimento de protocolos de seguimento diferenciados. “Quando o paciente preenche os critérios clínicos para síndrome de câncer de mama e ovário hereditário, é realizado teste genético para análise simultânea de 23 genes que podem estar relacionados à doença, pela técnica de Sequenciamento de Nova Geração (NGS)”, esclarece a professora.

Além do desenvolvimento de várias pesquisas voltadas para epidemiologia molecular e estudo de variantes de significado incerto nos genes estudados, o trabalho contribui para a assistência dos pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde, onde os testes genéticos são ainda inacessíveis. “Se o resultado do teste é positivo, outros membros da família que não têm o câncer podem ser avaliados e estratégias redutoras de risco e diagnóstico precoce estabelecidas, uma vez que o risco dos mesmos desenvolverem a doença é elevado comparado ao restante da população”, ressalta Luciana.

Dados do câncer de mama na pandemia (2020-2021)
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima 66.280 novos casos de câncer de mama no Brasil, para o triênio 2020-2022.

Levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), aponta redução de 42,6% na busca por exames de mamografia em 2020, em comparação ao ano de 2019. Segundo a Febrasgo, a realização de mamografias cresceu 25% em 2021, mas ainda está abaixo dos patamares pré-pandemia.

A ONG Oncoguia afirma que o número de mamografias caiu pela metade entre 2019 e 2020. A médica Luciana Holtz, diretora e presidente executiva da ONG, relata queda de 50% no número de mamografias de rastreamento entre 2019 e 2020; e 39% de diminuição na quantidade de biópsias.

Não somente em relação aos exames relativos ao câncer de mama, a crise sanitária decorrente da pandemia levou à suspensão de uma série de procedimentos eletivos, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS), quanto nas redes privadas. Dados do Conselho Federal de Medicina expressam que, desde março de 2020, mais de 30 milhões de procedimentos médicos e ambulatoriais do SUS deixaram de ser realizados.

Entre os procedimentos cancelados, estima-se que 16 milhões teriam finalidade diagnóstica, o que afetou diversas mulheres que deveriam fazer o acompanhamento de casos de câncer de mama.

De acordo com matéria publicada no Estadão, com base em estudo da Rede de Medicina Diagnóstica e Hospitais (Dasa), três milhões de mulheres deixaram de realizar exames relativos ao câncer de mama durante o período da pandemia da covid-19. Segundo a pesquisa, 91,1% das brasileiras com idade e indicação clínica para a realização de mamografia não realizaram o exame. “A taxa de detecção da doença é de cinco casos a cada mil exames, portanto se estima que mais de 15 mil mulheres podem estar com a doença sem saber.”

Saiba mais
https://www.americasamigas.org.br/campanhas-2022

https://www.camara.leg.br/noticias/766077-isolamento-na-pandemia-prejudicou-diagnostico-de-cancer-de-mama-dizem-especialistas/#:~:text=Segundo%20os%20especialistas%2C%20o%20isolamento,diminui%C3%A7%C3%A3o%20na%20quantidade%20de%20bi%C3%B3psias

https://journal.einstein.br/pt-br/article/o-atraso-no-diagnostico-do-cancer-de-mama-durante-a-pandemia-da-covid-19-em-sao-paulo-brasil/

https://summitsaude.estadao.com.br/saude-humanizada/cancer-de-mama-pandemia-afetou-diagnostico-precoce-em-mulheres/