Ginásio Santo Antônio completa 100 anos

Publicada em 08/06/2009

Uma das mais belas páginas da história da Educação em São João del-Rei está fazendo centenário. No último 1º de maio, religiosos franciscanos, estudantes, pais e educadores mineiros comemoraram os 100 anos de inauguração do Ginásio Santo Antônio, tradicional colégio franciscano, que existiu em São João del-Rei, de 1909 até 1972, e que foi a base para a fundação, nos anos cinquenta, do Colégio Santo Antônio de Belo Horizonte, um dos mais conceituados educandários do país.

A história, que marcou a vida de muitas gerações de são-joanenses e de estudantes vindos de várias partes do Brasil, começou em 1904, com a chegada a São João del-Rei de frades holandeses que, numa cidade tradicionalmente católica e admiravelmente barroca, decidiram construir um colégio para estudantes internos.

Depois de muito esforço e de ajuda da comunidade e do clero local, eis que numa manhã ensolarada de maio, era inaugurado o Ginásio Santo Antônio, o mesmo prédio de influência arquitetônica européia que abriga hoje o campus Santo Antônio da UFSJ.

A formação integral da juventude nos ideais franciscanos, de respeito máximo à dignidade humana, era adicionada a uma sólida formação nas disciplinas ensinadas com rigor. No início, a maior parte dos estudantes vinha de cidades menores e de fazendas, muitos deles trazidos a cavalo pelos frades, que compunham o grupo dos internos. Os demais estudantes do colégio eram são-joanenses, que compunham a turma dos externos.

No Ginásio, encontravam o carinho, a educação e o saber, regados a muitos passeios, incentivo aos esportes, banda marcial e outras atividades que completavam uma sólida formação cultural e humanística.

Vários expoentes em diversas áreas freqüentaram as antigas carteiras do Ginásio Santo Antônio. Só para citar alguns mais ilustres: Tancredo Neves, o grande estadista brasileiro, e João Guimarães Rosa, considerado um dos grandes nomes da literatura mundial.
A experiência pedagógica dos religiosos teve um resultado positivo. Em 1950, os frades de São João del-Rei inauguraram em Belo Horizonte o Colégio Santo Antônio, inicialmente dedicado ao ensino do científico (similar ao ensino médio atual).

Em 1968, um incêndio acidental destruiu uma parte do prédio e fez com que, quatro anos mais tarde, o Ginásio fechasse suas portas em São João del-Rei. Sem condições de reconstruir o que o fogo consumiu, os franciscanos decidiram repassar o edifício à Prefeitura Municipal, numa negociação que envolveu o governo mineiro. Estava criada a Fundação Municipal de São João del-Rei, instituição de ensino superior que deu origem à UFSJ. “As marcas do Ginásio Santo Antônio, em termos educacionais e culturais, são ainda muito fortes nesta cidade. A UFSJ deve muito ao trabalho desses abnegados educadores que não mediram esforços, fundaram este colégio e educaram gerações”, define o reitor da UFSJ, professor Helvécio Luiz Reis.

Em preto e branco

Para marcar os 100 anos do extinto Ginásio, o Colégio Santo Antônio de Belo Horizonte realiza, até outubro, uma intensa programação, com importantes eventos culturais e sociais. Um deles ocorreu dia 26 de maio, quando cerca de 200 estudantes, professores, diretores e funcionários do colégio vieram conhecer in loco onde toda história começou.

Na UFSJ, foram recebidos pelo professor são-joanense, Abgar Campos Tirado, que é o principal pesquisador da história do extinto Ginásio, e pelo técnico-administrativo, Luiz Antônio Ferreira, que trabalha no Setec e guarda parte da memória franciscana em São João del-Rei. Ex-estudante do Ginásio, Ferreira, há pouco mais de 15 anos, ganhou do frei Justino Burgers, negativos com antigas fotos do acervo dos franciscanos e voluntariamente se prontificou a scannear a coleção de antigos álbuns, compondo um acervo digital. O trabalho é feito com dedicação e paciência, e o técnico da UFSJ afirma ter armazenado um terço das cerca de duas mil fotos. São imagens em preto e branco, de fatos marcantes da vida do Ginásio, como os desfiles de setembro, piqueniques, domingos de futebol e as formaturas solenes. Imagens da rica história de uma comunidade educacional, que o tempo, mesmo centenário, não pôde apagar.