Em Angelus novus, de Paul Klee, Walter Benjamin (1996) vislumbrou a imagem aterrorizante do anjo que tem os olhos escancarados, a boca dilatada, as asas abertas e o rosto dirigido para o passado. O Anjo da História observa a tempestade e o imenso campo de ruínas. Contemplar um espaço devastado envolve o esforço de entender o tempo como processo. Nesse sentido, o conceito de Ruína opera em sentido ambíguo, voltado para o passado e também para o futuro. A consciência do passado, tanto no Ocidente como no Oriente, é muitas vezes o resultado de um diálogo entre imagens, monumentos, memória oral e tradição escrita; algumas sociedades, porém, não têm arquitetura nem escrita. O objetivo do evento é identificar as linhas de força que nos permitem enfrentar o passado não como mero passado, mas como força propulsora que permite ler e interpretar outras temporalidades.

O “6º Colóquio Internacional Promel”, em uma parceria com o grupo e laboratório de pesquisa “Retiina.Internacional” tem como iniciativa interrogar a ideia de Ruína no âmbito das artes, da literatura e em perspectiva semiótica. Buscamos, assim, o entendimento de Ruína como fragmento redescoberto pela arte, como lugar da memória – ao mesmo tempo de destruição e construção. A relação entre a poética da memória e os vestígios são os fios condutores deste colóquio. Em confronto com as políticas de esquecimento praticadas pelas sociedades, devemos enfrentar o passado, evitar o seu apagamento. De acordo com Benjamin (1996, p. 37), “[...] o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois”. Perguntamos: quais seriam hoje os meios de revitalizar nossas ruínas? Alain Schnapp (2015) lembra que o Renascimento europeu abriu mais um capítulo que conduz a uma clara vontade de recuperação de ruínas antigas, baseadas tanto na poesia como na agrimensura e no desenho. Pela primeira vez, os monumentos da Antiguidade são representados com precisão e localizados no espaço, enquanto os antiquários desenvolvem técnicas de datação cada vez mais precisas. O antiquário e o poeta sempre trabalharam lado a lado. O conceito de Ruína tratado neste colóquio não é o gozo macabro da desintegração de corpos, objetos e outros elementos, nem a decadência da vida ou a contemplação da destruição. A Ruína, para nós, quer ser um ponto de partida para um outro tipo de reflexão. É o "ponto" semiótico onde é possível, graças à arte, regenerar "algo". Essa extensão do conceito nos leva a uma superação epistemológica: aquela de uma consciência fundadora que possa revelar que o homem não é o centro de tudo, mas, como escreve Emmanuele Coccia (2020), parte do mundo ou “carne da terra”. É como se, operando de forma quase invisível, a Ruína desfizesse o lugar do sujeito, impondo sua presença singular nas práticas e estéticas das artes e literaturas atuais. Então, nos interrogamos: como, do ponto de vista da Ruína, podemos pensar o nosso mundo de maneira diferente? Como a Ruína poderia condicionar a realização de uma reflexão sobre o Outro por meio da arte?

Referências:

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. (Obras escolhidas, v. 1). Tradução Sérgio Paulo Rouanet. 10ª reimpressão. São Paulo: Brasiliense, 1996.

COCCIA, Emmanuele. Métamorphoses. Paris: Payot & Rivages, 2020. SCHNAPP, Alain. Ruines. Essai de perspectives comparées. Lyon: Presses universitaires de Lyon– Paris: Les Presses du réel, 2015.

 

O PROMEL – Programa de Pós-Graduação em Letras: Teoria Literária e Crítica da Cultura da UFSJ – tem como objetivo desenvolver pesquisas sobre a literatura e outros discursos, levando-se em conta principalmente as questões referentes à memória e à identidade cultural.

O grupo e laboratório de pesquisa "Retiina.Internacional" trabalha há muito tempo com estética e teorias sobre antigas e novas imagens. Formado na França, o "Retiina.Internacional" é coordenado e dirigido por François Soulages, professor emérito da Universidade Paris VIII Saint-Denis, em colaboração com várias instituições acadêmicas internacionais, entre as quais o Programa de Pós-Graduação em Arte (PPGAV) da Universidade de Brasília. Responsável de "Retiina.Internacional" no Brasil é o prof. Biagio D'Angelo (PPGAV-UnB). Interesse principal do "Retiina.Internacional" é visar consolidar as reflexões teóricas e artísticas, com ênfase especial na teoria da arte, história da arte e na estética, envolvendo a relação entre pensamento filosófico e poéticas antigas e contemporâneas.

 

CADERNO DE COMUNICAÇÕES. Clique aqui

CADERNO DE COMUNICAÇÕES DE CONVIDADOS. Clique aqui

Grade Horária e Programação:

Mesas-redondas: https://drive.google.com/file/d/1o9u-C7Qr334BzNTNdRH_g5Q1rZcphySx/view?usp=sharing

Comunicações orais: https://drive.google.com/file/d/1JKVwbRVJ4SG8rz4lgHihkseFoVD74_7z/view?usp=drive_link  


Cadernos de resumo: 

Mesas redondas: https://drive.google.com/file/d/1MWIg8DIhBOGfz5v60ugzlg92JUoPLf9x/view?usp=drive_link

Comunicações orais: https://drive.google.com/file/d/1yaVwnGx_fVX2uR4Up0fdwOgULKgWWxli/view?usp=drive_link

 

?? Perfil no Instagram: https://instagram.com/imgruinapromel
?? Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/coloquioimgruina
?? Inscrições para participação como ouvinte: https://www.sympla.com.br/evento/6-coloquio-internacional-promel-imagem-e-ruina/2025977

Contato: coloquioimagemeruina@gmail.com


Última atualização: 18/10/2023